23.2.06

Micro popular proibitivo!

Micro popular proíbe alterações de soft e hardware

Os computadores que fazem parte de iniciativas de inclusão digital podem, muitas vezes, ter configuração e recursos limitados para reduzir o preço final do produto. Este conceito de restrição fica bastante evidente com o micro FIC Conectado, , lançado no final de 2005. Disponível somente em São Paulo, a máquina deve satisfazer os novos usuários por poucos meses, até que eles percebam a dimensão das limitações deste novo produto.

Parcelado em 36 vezes, o computador sai por R$ 1.544
Em teste realizado pela Folha Online, a máquina mostrou que funciona bem como um terminal de internet discada e ajuda na realização de atividades simples, como a criação de textos e planilhas, por exemplo. Um dos principais problemas aparece quando o usuário se interessa por um novo programa --uma determinação de fábrica impede que o internauta rode qualquer software executável na máquina.

Frente a esta limitação, o consumidor paga caro pelo produto. São R$ 800 à vista ou R$ 1.544 divididos em 36 parcelas de R$ 42,90. A título de comparação, um computador do programa de inclusão digital "Computador Para Todos", sem esta estrutura engessada, sai por 25 prestações de R$ 69,90 (ou R$ 1.255 à vista).

As empresas que participam do projeto --entre elas a iTelefonica, AMD, Samsung e Submarino-- justificam as características restritivas da máquina pelo fato de ela ter como alvo pessoas ainda não-familiarizadas com a tecnologia. "Com esta estrutura, o PC se aproxima do patamar do eletrodoméstico: o usuário liga a máquina na tomada e acessa a internet sem ter de fazer grandes configurações", afirma Otto Stoeterau, gerente de projetos da AMD.

O objetivo de facilitar a vida dos usuários pode causar frustrações, já que o uso de computadores gera cada vez mais demanda por novidades. Em alguns meses, é possível que o internauta se frustre ao perceber que não poderá instalar qualquer tipo de software em seu FIC Conectado.

Software

Os programas disponíveis ao usuário já vêm instalados e configurados --entre eles estão o sistema operacional Windows CE, editor de texto e planilhas, navegador Internet Explorer e comunicador instantâneo MSN Messenger. O editor de texto apresentou lentidão durante os testes ao abrir arquivos em Word: cerca de cinco minutos para um documento de 800 KB, enquanto um PC com Windows 98, Pentium III e 64 MB de memória RAM fez o mesmo em menos de dez segundos.

Como é impossível rodar programas executáveis no FIC Conectado, a máquina não precisa de antivírus --na maioria absoluta dos casos, estes códigos maliciosos são executáveis. Esta aparente vantagem limita muito as possibilidades de uso da máquina e, por isso, pode ser comparada ao fato de uma pessoa não sair de casa para evitar os riscos das ruas.

Hardware

Assim como acontece com o software, o internauta não pode fazer alterações relacionadas ao hardware. A máquina é lacrada, impedindo modificações em sua estrutura física composta por HD de 10 GB, memória RAM de 128 MB, processador AMD Geode de 500 Mhertz e portas USB. Um monitor de 15", um teclado e um mouse acompanham o produto.

Estas saídas USB são úteis caso o usuário queira dar um "upgrade" em seu PC, conectando a máquina a periféricos --caso de impressoras, leitores de HD, de CD-ROM ou de disquete, por exemplo. As portas também dão acesso à conexões rápidas de internet via modem USB. O foco do produto popular, no entanto, é o acesso discado à web.

Seguindo o padrão de funcionamento da máquina, só é possível utilizar periféricos que já tenham seus drives instalados nas máquinas. Caso o uso de alguma novidade seja liberado pelas empresas envolvidas no projeto, o internauta recebe os novos drives automaticamente.
Folha