28.2.06

A farsa do Banco Popular

Com inadimplência alta e prejuízos, instituição criada para dar crédito a pobres é alvo de disputa no governo
BB negocia com Palocci incorporação do Banco Popular


Na contramão da safra de notícias positivas e dos pacotes de bondades para estimular setores específicos e acumular dividendos políticos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá que decidir nas próximas semanas o futuro do Banco Popular do Brasil. Voltado para conceder empréstimos para pessoas de baixa renda que nunca tiveram uma conta bancária, a instituição criada em 2004 é o novo alvo de disputa política dentro do governo.
Com um índice elevado de inadimplência -que chegou a 30% dos empréstimos concedidos e hoje está em 20%- e sucessivos prejuízos, o banco já consumiu 76% dos R$ 116 milhões aportados pelo Banco do Brasil para que a sua subsidiária popular entrasse em funcionamento. Em 2004, o banco fechou com um saldo negativo de R$ 25 milhões. No ano passado, o rombo foi ainda maior: R$ 62 milhões. Com isso, o patrimônio da instituição atual é de apenas R$ 28 milhões.
A continuar nesse ritmo de prejuízos, o governo terá que colocar mais dinheiro no banco em breve. Diante dessa possibilidade, a cúpula do BB negocia com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, a incorporação no Banco Popular pelo seu controlador. A proposta já está pronta e terá que ser aprovada pelo Conselho de Administração. Antes, porém, precisa do aval do presidente.
Essa idéia, no entanto, faz muitos petistas dentro do governo torcerem o nariz. Eles argumentam que isso seria um atestado de fracasso do programa de microcrédito, bandeira de Lula e principal instrumento para mesclar os lucros recordes do setor financeiro com um projeto de inclusão social.
Com isso, prometem "fazer a cabeça do presidente" para impedir que essa proposta avance. O ministro Palocci já previa resistências mas tem dado apoio à direção do BB para tomar medidas que evitem a geração de rombos ainda maiores.
No final do ano passado, houve um enxugamento da estrutura do Banco Popular. Uma diretoria e as seis gerências executivas foram extintas e o comando da instituição ficou resumido a uma presidência e duas diretorias, proporcionando uma redução de custo de 20%.
A medida foi uma espécie de preparação para reestruturação maior. Por isso, desde a saída do petista Geraldo Magela da presidência do Banco Popular, em setembro de 2005, o banco trabalha com um presidente interino.
A proposta em estudo, que deverá ser levada ao presidente Lula por Palocci e pelo presidente do BB, Rossano Maranhão, nas próximas semanas, é incorporar o Banco Popular ao BB, transformando parte da equipe atual da instituição num departamento do Banco do Brasil.
A equipe econômica espera convencer o presidente de que "tecnicamente" essa é a melhor medida. Eles vão garantir que o Banco Popular não deixará de existir e não haverá prejuízo ao programa de microcrédito. O banco manterá a contabilidade separada. Apenas haverá uma "racionalização, com o BB assumindo áreas comuns", como por exemplo a de análise de risco de crédito.
Outro argumento será o de que a maior parte dos empréstimos dentro do programa de microcrédito foi concedida pelo BB e não pelo Banco Popular. Do saldo de cerca de R$ 460 milhões em operações no final do ano passado, apenas R$ 79 milhões foram feitas pela subsidiária popular. O restante refere-se a crédito concedido pelo BB.
Com base nesses números, os defensores da reestruturação no Banco Popular irão argumentar que a integração com o BB proporcionará melhor atendimento aos 1,5 milhão de clientes e ampliação dos serviços oferecidos de uma forma mais saudável, já que haverá um controle "mais de perto" das operações realizadas.
Também está em estudo uma alteração no foco de atuação do Banco Popular que passaria a priorizar mais o microcrédito produtivo ao invés de apenas atender pessoas do setor informal que estavam fora do sistema bancário. Na avaliação dos defensores dessa tese, se insistir na forma de atuação atual, o banco não conseguirá se sustentar.
Folha

Um comentário:

Anônimo disse...

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