12.2.06

Lista de Furnas não serve para inquérito, diz PF

Peritos que já examinaram papéis avaliaram que é impossível afirmar se são forjados ou não

Embora não tenha anunciado, a Polícia Federal já concluiu que não há como embutir num inquérito o documento que nas últimas semanas vem provocando inquietação nos políticos. É mais do que duvidosa a autenticidade da lista de beneficiados pela suposta distribuição de dinheiro oriundo do caixa da estatal de energia Furnas.

Todos os peritos que até agora examinaram os papéis avaliaram que é impossível afirmar se foram forjados ou não. A relação que circula no Congresso está em cópias xerox que trazem a logomarca de Furnas, a assinatura de seu ex-diretor de Engenharia Dimas Toledo e carimbos de autenticação do 4º Ofício de Notas do Rio de Janeiro. Aparecem os nomes de 156 políticos de 12 partidos, majoritariamente de oposição, além das quantias que cada um teria recebido.

O problema é que o original nunca veio a público e provavelmente nunca virá. Um dos peritos que estudaram a lista é Ricardo Molina, de Campinas, que em outubro emitiu um parecer a pedido da revista IstoÉ. Na semana passada, Molina produziu novo parecer, desta vez por encomenda do PSDB.

No texto mais recente, emitido quinta-feira, o perito responde a uma série de perguntas sobre a lista de Furnas. Ao ser indagado se o documento tem elementos capazes de atestar sua autenticidade, Molina diz que não. "Uma resposta inequívoca depende do exame do original (caso exista)", afirma. No parecer ele vai além: "A respeito da lista de Furnas (...) seria sensato atribuir um peso significativo a uma expectativa de falsidade na elaboração de uma hipótese de trabalho, mesmo que a cópia examinada não apresente sinais evidentes de falsificação."

Na Polícia Federal, a convicção é de que teria pouca utilidade para as investigações até mesmo a descoberta dos papéis a partir dos quais foram feitas as cópias. Eles podem ser resultado de uma montagem forjada por alguém interessado em praticar extorsão. "Ainda que apareça o documento original, isso teria pouca força como prova criminal", explica um dos integrantes da cúpula da PF.

SUSPEITA

O que causa desconforto entre os policiais federais é a suspeita de que a lista de beneficiados seja falsa, mas a história seja verdadeira. Dinheiro sujo de Furnas pode mesmo ter servido para irrigar campanhas eleitorais, mas é improvável que isso tenha sido registrado em documentos passados em cartório.

A Controladoria-Geral da União fará uma auditoria nas contas e contratos da estatal para levantar que empresas privadas, por meio do pagamento de propinas, podem ter sido usadas para alimentar um esquema irregular de financiamento político. Os policiais federais aguardam o resultado desse levantamento para convocar empresários para depor.

Os rumores de que Furnas serviria para direcionar dinheiro para partidos vêm desde o governo Itamar Franco. Atravessaram os oito anos da gestão Fernando Henrique Cardoso e permaneceram depois que o PT chegou ao poder. Os políticos mineiros sempre foram contra a privatização da estatal.
Estadão

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