Invasores querem resistir contra despejo em MS
Justiça ordenou desocupação de fazenda onde há reféns
Pelo menos a metade das 1.057 famílias de sem-terra que ocupam a Fazenda Teijin, em Nova Andradina (MS), está disposta a resistir à ordem de despejo da Justiça Federal e continuar com o protesto iniciado na segunda-feira desta semana. Elas mantêm reféns 28 funcionários do Grupo Agropecuário Teijin e estão deixando sem água e alimentação 10 mil bois. Também bloquearam entrada e saída de pessoas e veículos, sustentando, como palavra de ordem, "Aqui ninguém entra ou sai".
Segundo garantiram líderes dos invasores, até a tarde de ontem não tinha havido notificação da decisão do juiz federal de Dourados, Jairo da Silva Pinto, determinando a desocupação imediata da propriedade e a reintegração de posse. São grupos ligados ao Movimento dos Sem-Terra (MST) que estavam acampados nas margens da BR-267 e que há dois meses, apoiados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), invadiram o imóvel rural, que possui área de 28,5 mil hectares.
"É absurda a decisão da Justiça Federal", sustenta nota divulgada pelo MST, acrescentando que existem famílias aguardando assentamento no local há mais de dez anos. O advogado da fazenda, Diamantino Silva Filho, afirma lamentar a situação dos sem-terra e acredita que "eles foram enganados pelo superintendente regional do Incra, Luiz Carlos Bonelli".
Há parecer técnico afirmando que a área não serve para assentamento de sem-terra, devido à má qualidade do solo. "Não dá para 200 famílias viverem dignamente ali, e muito menos para as 1.057 selecionadas pelo Incra", explica o advogado.
Diamantino adiantou também que hoje solicitará força policial para o cumprimento do mandado judicial e já na próxima segunda-feira iniciará o levantamento do valor dos prejuízos causados pela invasão, para pedir ressarcimento.
"Queremos receber até o último centavo do Incra", disse o advogado. "Tivemos informações seguras sobre as condições impostas pelos invasores às 10 mil cabeças de bovinos que a empresa tem na fazenda. Os animais já apresentam sinais de debilidade, estão emagrecendo rapidamente, sem água e alimentação. Provavelmente entrarão no rol dos prejuízos", informou ele.
Para evitar aumento nos valores a serem ressarcidos, Diamantino disse que o grupo agropecuário pode doar todos os recursos necessários para a desocupação da fazenda. "Caso seja preciso, a empresa fornecerá ônibus, caminhões e alimentação para desocupar a fazenda. Conforme determina a decisão judicial, cada dia de invasão equivale a multa de R$ 10 mil contra o Incra. Queremos uma desocupação pacífica, se possível, é claro", afirmou.
O Incra ainda pode recorrer, mas terá de fazê-lo diante da 3ª Turma do Tribunal Regional Federal, com sede em São Paulo - a mesma que suspendeu no dia 6 os efeitos da desapropriação da Teijin, ocorrida por decreto presidencial em outubro de 2001. A medida foi adotada baseada em laudos da perícia judicial indicando que a fazenda é produtiva, diferentemente do que afirma o decreto.
Para o advogado dos proprietários, Bonelli teria intenções políticas, de olho em votos que a invasão da fazenda poderia gerar. Há indicações de que o superintendente do Incra poderia se candidatar a deputado estadual, caso o governador José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, saísse candidato ao Senado - o que não aconteceu. Caso o petista assumisse a candidatura, Bonelli poderia contar com votos entre as mais de 11 mil famílias de sem-terra que acomodou e assentou nas áreas compradas e desapropriadas pelo órgão, durante a sua gestão frente ao Incra de Mato Grosso do Sul.
Estadão
Um comentário:
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