9.6.06

sobre Maranhão

Prisão frustra viagem de líder a passeio aos EUA
Maranhão tem vida confortável no Recife, onde mora em bairro nobre


A prisão do líder do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST), Bruno Maranhão, frustrou seu plano de viajar aos Estados Unidos no fim de semana para visitar a filha e a neta de 1 ano que moram em Princeton, e onde sua mulher, Susana, o aguardava. Seu genro é norte-americano.

Defensor da reforma agrária, Bruno mora em um apartamento de 250 metros quadrados em Casa Forte, bairro nobre do Recife, freqüenta o casarão onde mora a mãe, no bairro próximo e também nobre de Parnamirim, e tem boa relação com os cinco irmãos - três deles donos de usina de açúcar e destilaria de álcool. Era neste casarão, de três andares e com elevador, que Maranhão ficava hospedado quando morava em São Paulo e viajava a Pernambuco. O mesmo endereço foi utilizado por ele, no ano passado, para dar entrevista sobre o assassinato de um integrante do MLST em Itaíba, no agreste.

CONTRADIÇÃO

Desde cedo, Maranhão, de 66 anos, convive com a contradição: filho e neto de usineiros, na infância vivia como filho de dono de engenho em Palmares, na zona da mata, e brincava com os filhos pobres dos trabalhadores rurais. Estudou em boas escolas no Recife e não aceitou continuar o empreendimento do pai, Fernando Maranhão, com cana de açúcar.

Mas foi a herança de bens e terrenos, com a morte do pai, em 1989, que permitiu sua sobrevivência, da mulher e dos dois filhos enquanto se dedicava à causa revolucionária.

Primeiro no Partido Comunista Brasileiro, depois no Partido Comunista Revolucionário do Brasil (PCBR) e, a partir de 1980, no Partido dos Trabalhadores (PT), do qual foi um dos fundadores e integrante, desde então, do diretório nacional. Foi candidato ao Senado e à prefeitura, em 1982 e 1985, respectivamente, para divulgar as propostas do PT.

Afastado da Secretaria de Movimentos Populares do partido devido à sua participação na depredação da Câmara, Maranhão é amigo de Lula e participava da coordenação da campanha do presidente à reeleição. "O afastamento de Bruno da executiva do PT foi realizado de forma sumária, de maneira covarde, sem sequer ouvi-lo", avaliou seu irmão, Carlos Henrique Maranhão. "Acho que algumas pessoas do PT estavam muito impressionadas com o mensalão e tomaram essa atitude pusilânime". Bruno Maranhão pegou em armas contra a ditadura militar, foi exilado no Chile e depois na França e voltou ao Brasil com a anistia, em 1979.

Os mais próximos a Bruno Maranhão não acreditam, apesar das evidências, que ele tenha comandado a depredação. E fazem elogios à sua coerência e idealismo. "Só conheci dois idealistas autênticos: Apolônio de Carvalho (militante comunista morto no ano passado) e Bruno Maranhão", afirmou seu amigo de infância Luciano Cavalcanti.
Estadão