21.6.06

Evo continua...

Evo ameaça brasileiros que compraram terras
Presidente da Bolívia diz que as aquisições foram feitas de modo ilegal, e afirma que pode usar o Exército para retomar as fazendas


O presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou ontem que recorrerá ao Exército para evitar que brasileiros possuam de forma ilegal terras no Leste boliviano, principalmente no Departamento amazônico de Pando.

"Os pandinos, o movimento indígena, camponês, colonizador, estão pedindo aos gritos que o Exército apareça. Vamos mandar o Exército para defender as terras do Leste boliviano dos brasileiros", disse Evo.

Ele fez a advertência em discurso a milhares de camponeses num estádio de futebol de Punata, no Departamento central de Cochabamba, onde explicou a "revolução agrária" que levará a cabo.

As autoridades de La Paz disseram, nas últimas semanas, que cidadãos brasileiros estão adquirindo terras de forma ilegal em áreas do território boliviano próximas à fronteira comum.

"Esta terra da Bolívia tem dono. Antes, com certeza, era terra de ninguém, como quando a empresa siderúrgica brasileira EBX operava na localidade oriental de Puerto Suárez, supostamente para construir uma indústria, sem respeitar as leis bolivianas", acrescentou Evo.

Em abril, a EBX foi obrigada por Evo a abandonar o país sob o argumento de que violou a Constituição ao se instalar a menos de 50 quilômetros da fronteira com o Brasil e ao construir fornos de fundição sem licença ambiental. Ele pediu às autoridades departamentais e municipais que façam o território ser respeitado, para que não ocorra como "antes, quando entrava qualquer brasileiro ou peruano" no povoado de Bolpebra, na tríplice fronteira. "Vamos assegurar a soberania de nossa terra", afirmou, ao ratificar a intenção de repartir os latifúndios ociosos entre os camponeses.

CRÍTICAS À PETROBRÁS
A Petrobrás foi a única multinacional afetada pelo decreto de nacionalização dos hidrocarbonetos na Bolívia que "não acatou" a decisão do governo Evo Morales, acusam autoridades em La Paz. A afirmação foi feita pelo ministro boliviano de Desenvolvimento, Carlos Villegas.

"Com exceção da Petrobrás, neste momento a maioria das empresas que tinham contratos de risco compartilhado tem aceitado e acatado o conteúdo do decreto de nacionalização", disse o ministro durante a coletiva de imprensa na qual detalhou o plano econômico de Evo para os próximos cinco anos.

Em Curitiba, o presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli, disse ontem que as negociações com os bolivianos sobre o preço do gás natural avançam normalmente. "Estamos conversando com o governo boliviano semanalmente", acrescentou.
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Mais 6 empresas estatizadas

O governo de Evo Morales informou ontem que o Estado boliviano retomará o controle de seis empresas dos setores de telecomunicações, energia e ferrovia, todas privatizadas na década de 90. O ministro do desenvolvimento da Bolívia, Carlos Villegas, disse que seis empresas retornarão ao controle estatal.

As companhias alvo da nacionalização são a de telecomunicações Entel (Telecom Italia), as de energia Corani, Guaracachi e Valle Hermoso (controladas pela Duke, de capital norte-americano e boliviano) e as ferrovias Oriental e Andina, administradas por capital norte-americano e chileno, respectivamente. O decreto de nacionalização destas empresas deverá sair "em breve".

Villegas disse que a medida pode ser entendida como "nacionalização" ou "bolivianização" das chamadas firmas "capitalizadas", que são administradas por capitais privados nacionais ou estrangeiros. "O importante é que queremos 51% das ações para o Estado", disse o ministro, ao dar detalhes sobre o Plano Nacional de Desenvolvimento de 2006 a 2010.
Estadão