27.6.06

República da UNE

No Rio, prefeitura chefiada por petista vira república de ex-dirigentes da UNE

Líderes da UNE nos anos 90, hoje um é ministro, o outro, prefeito, e seus colegas, secretários municipais. Descontraídos, eles se encontraram ontem em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
A ocasião era a visita do ministro Orlando Silva (Esporte), 35, à cidade dirigida pelo prefeito Lindberg Farias (PT), 36. O primeiro foi presidente da UNE entre 1995 e 1997, posterior a Lindberg (1992). Orlando foi lançar o programa Segundo Tempo, que vai oferecer a 10 mil jovens reforço escolar e alimentar, além de material e uniforme para a prática esportiva.
"Sabe que moramos juntos em São Paulo, o Orlando e eu? Foi numa república. Eu era presidente da UNE e ele era o tesoureiro. As instalações eram horrorosas", conta o prefeito com sorrisos.
"Lembra que a gente jogou futebol dentro do apartamento num domingo de manhã e a vizinha de baixo reclamou?", acrescentou Orlando.
"Somos relativamente jovens e tivemos na UNE uma escola de formação política. Tivemos o privilégio de fazer parte da mesma geração, a geração do "Fora Collor". Agora vivemos uma experiência nova, que é transformar os nossos sonhos em políticas públicas", disse o ministro.
Lindberg se cercou de ex-companheiros do movimento estudantil para montar sua equipe. O secretário de Desenvolvimento Econômico é Ricardo Cappelli, 34, que sucedeu Orlando Silva na presidência da UNE, onde permaneceu até o fim de 1999.
Secretário de Transportes, Leandro Cruz, 36, ocupou cargos de diretor e vice-presidente da entidade entre 1992 e 1995. "A gente defende hoje as mesmas coisas que defendia antes. O ideal é o mesmo: construir um país melhor."
O assessor de gabinete Waldemar de Souza, 40, foi vice-presidente da UNE entre 1989 e 1991, quando o presidente era Cláudio Langone, que hoje é secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente. Ele é apontado como o "mentor" dos mais novos. "Mas isso é só porque eu sou o veterano", disfarça.
"É uma república [a prefeitura]. O bacana é que a gente brigava muito e hoje se ajuda", brinca Lindberg. Um coisa, pelo menos, Lindberg atesta que mudou. Ele diz que leva vantagem nas discussões com os companheiros.
"A gente discordava muito e tinha que votar. Agora sou eu que decido. Todo mundo fica dando opiniões, mas agora sou eu que decido", afirma o prefeito de Nova Iguaçu em meio a gargalhadas dos companheiros.
Folha