22.6.06

Devassa nas contas

Procurador quer devassa em contas de Ideli
Apuração do MPF mostrou que contas da líder do PT no Senado movimentaram R$ 1,1 milhão


O procurador Celso Antonio Três, que atua no Ministério Público Federal em Tubarão (SC), defendeu ontem a necessidade de uma devassa bancária e fiscal para aprofundar as investigações sobre gastos da líder do PT no Senado, Ideli Salvatti, com a instalação de 398 outdoors por meio dos quais ela teria feito propaganda pessoal nas obras de duplicação do trecho Sul da BR-101 - empreendimento orçado em R$ 1 bilhão.

A investigação do MPF descobriu que contas de Ideli movimentaram R$ 1,1 milhão entre 2004 e 2005, período que coincide com o funcionamento do esquema do valerioduto. Celso Três disse que encaminhou ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, cópia do procedimento que instaurou por improbidade administrativa para providências de caráter criminal - que cabem ao chefe do MPF por ter Ideli foro privilegiado, perante o Supremo Tribunal Federal.

O procurador considera que a colocação dos painéis é "clara afronta" à Constituição, que veta esse tipo de conduta. Três negou que possa ter divulgado informações sobre a CPMF paga por Ideli. Ele disse que abriu a investigação com base em denúncia de políticos inconformados com a exposição da senadora em uma obra de grande importância na região.

Segundo o procurador, a senadora divulgou que havia pago R$ 162 mil pelos outdoors, dinheiro que levantou por meio de empréstimo de R$ 80 mil e da venda de dois veículos. "Instaurei inquérito por ato de improbidade, que dá margem à eventual ação civil e multa, por isso achei fundamental enviar o caso ao procurador-geral, que pode fazer uma devassa criminal", anotou Celso Três. "Quando eclodiu a CPI dos Correios, sumiram os outdoors."

O procurador destacou que deu a Ideli "ampla possibilidade" para esclarecer o episódio, mas ela teria se esquivado. Três observou que a própria Ideli declarou que sua renda como senadora é de R$ 200 mil por ano. Ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE), ela informou possuir patrimônio de R$ 132 mil. "Os números não fecham, a dissonância é muito grande. Gastou mais do que o patrimônio para fazer propaganda."

Ideli pode ser investigada pela Corregedoria do Senado. O corregedor Romeu Tuma (PFL-SP) afirmou que vai analisar a denúncia, originalmente publicada pelo Correio Braziliense.

"Quero que apurem até as últimas conseqüências a quebra do meu sigilo bancário e todo o caso", reagiu Ideli. Ela disse que todos os seus rendimentos estão declarados e sua movimentação bancária foi de R$ 1,1 milhão porque fez três empréstimos, totalizando R$ 250 mil, para pagar dívidas pessoais e outdoors.
Estadão