1.6.06

Embaixadora, Kroll e Planalto

Ex-embaixadora levou Kroll ao Planalto
Donna Hrinak, dos EUA, intermediou encontros do fundador da empresa de espionagem com Thomaz Bastos e Dirceu

Assessoria do Ministério da Justiça confirmou a reunião com executivo; segundo a pasta, foi discutida a ação da PF contra a companhia


Pouco tempo depois de deixar a diplomacia americana, a ex-embaixadora dos Estados Unidos no Brasil Donna Hrinak intermediou encontros entre executivos da Kroll e autoridades brasileiras.
No final de 2004, Hrinak levou Jules Kroll, fundador da empresa de espionagem, a um encontro com os ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e José Dirceu (Casa Civil) no Palácio do Planalto. A ex-embaixadora teria apresentado também o ex-diretor da Kroll Frank Holder ao senador Romeu Tuma (PFL-SP).
Hrinak se aposentou em junho de 2004. Em setembro daquele ano, a Polícia Federal deflagrou a Operação Chacal, tendo a Kroll como alvo por ter investigado autoridades brasileiras supostamente a mando do Opportunity, de Daniel Dantas.
Ao deixar a embaixada, Hrinak se tornou alta executiva da empresa Steel Hector & Davis, especializada em aproximar a iniciativa privada de governos. A Steel Hector havia sido contratada pela Kroll. Pouco tempo após a Operação Chacal ter sido veiculada na imprensa, Hrinak levou Jules a Thomaz Bastos e Dirceu.
A assessoria do Ministério da Justiça confirmou a reunião. Informou que Jules deu sua visão sobre o caso e reclamou da ação da PF contra sua empresa, a qual considerou inapropriada. De acordo com o ministério, Bastos teria dito a Jules para que ele entrasse com uma representação contra o governo caso se sentisse prejudicado.
Romeu Tuma também confirmou ter sido procurado, em seu gabinete no Congresso, por Hrinak, acompanhada de Frank Holder. Segundo o senador, ela pedira para que ouvisse as explicações de Holder sobre as ações da Kroll no país. Holder teria lhe dito que a Kroll não teria investigado autoridades brasileiras.

Contradição
A reportagem entrou em contato por telefone com Hrinak, nos EUA, duas vezes. Na primeira, perguntou se ela teria levado Holder ao gabinete de Tuma e a Thomaz Bastos. Ela negou as duas coisas.
Disse que nunca tivera contato com Holder no Brasil, que apenas o havia encontrado duas vezes em seminários nos Estados Unidos. Nada mencionou sobre o encontro entre Jules Kroll, Thomaz Bastos e Dirceu no Planalto.
A Folha voltou ao senador, dizendo que Hrinak havia negado o encontro em seu gabinete na companhia de Holder. Ele reafirmou o que dissera e acrescentou que tinha uma testemunha, o delegado da PF aposentado Marco Antonio Cavaleiro. "Eu a recebi com muito prazer, tenho muito respeito por ela. Não sei por que ela está negando, o encontro não era segredo nem reservado", disse Tuma.
Na segunda ligação a Hrinak, a reportagem lhe informou que a assessoria do Ministério da Justiça confirmara o encontro dela com Thomaz Bastos e Dirceu, mas não na companhia de Holder e sim na de Jules Kroll. Ela confirmou, então, a reunião, mas continuou negando o encontro com Holder e Tuma.
Folha