‘Quero olhar alguns parlamentares de frente’

Um fantasma voltou a assombrar autoridades dos três poderes da República. A empresária de eventos do ramo de entretenimento masculino Jeany Mary Corner está magoada com o abandono de amigos e clientes que costumavam ligar com freqüência para o celular dela. Jeany, aliás, ressalta que o nome de muitos desses clientes vips aparecem na tela do “celular de trabalho” e que os números continuam registrados.

Ela está de férias em São Lourenço (MG), mas prepara sua volta ao batente em março. Antes, porém, avisa que quer passar em gabinetes da Câmara e do Senado para olhar no olho de antigos amigos. Diz que enfrenta problemas financeiros e que espera o reconhecimento por sua discrição dos últimos meses.

— Você não acha que é justo uma ajuda financeira para me manter? Isso não é extorsão! — disse ao GLOBO. — Quando eu voltar vou andar pelos corredores do Congresso. Quero olhar alguns parlamentares de frente. Conheço alguns do tempo em que ainda eram governadores. Mas fui abandonada.

Fama de cafetina afugentou clientes

A empresária teve uma reviravolta em sua vida em agosto, quando numa sessão da CPI dos Correios o senador Demóstenes Torres (PFL-GO) perguntou à diretora financeira da agência SMP&B, Simone Vasconcelos, se ela conhecia a “cafetina Jeany”.

Do dia para a noite, conta ela, perdeu parte significativa da clientela, teve que passar uma temporada em São Paulo e chegou a vender o carro para pagar R$ 30 mil ao ex-advogado, Ismar de Freitas Junior. Ela diz que o acerto inicial era de R$ 200 mil.

Pela primeira vez ela admite que na ocasião em que seu nome apareceu nos jornais chegou a fazer um relatório com nomes de clientes. Mas nega que tenha feito extorsão ou chantagem. Diz que apenas pediu ajuda a alguns amigos para se manter no período sem trabalho.

— Fiquei no anonimato esse tempo todo. Fui muito digna. Diferente de outros que abriram a boca. Por isso, pedi ajuda sim. Falei para algumas pessoas: ‘Já que aconteceu tudo isso comigo, me dê uma ajuda para eu ficar sossegada até 2006’. Isso é chantagem? De jeito nenhum. Preciso viver e estou sem trabalhar — conta.

Parte da história contada por Jeany é confirmada por uma testemunha: o deputado Virgílio Guimarães (PT-SP). Ele diz que em setembro foi procurado por um colega parlamentar que apresentou a temida lista com citação de autoridades. Segundo Virgílio, o dossiê continha não só nomes de integrantes dos três poderes como clientes do setor privado.

Em alguns casos, o relatório revelava detalhes íntimos do cliente, como envolvimento regular com as meninas de Jeany. O petista conta que não conhecia a empresária pessoalmente, mas resolveu ajudar, pois ela estava desesperada. Por isso, diz Virgílio, procurou alguns dos citados no relatório para alertar sobre sua existência. Mas conta que pôs uma condição: que não houvesse chantagem.

— Não tenho problema em ajudar alguém. Sou um homem da noite. Gosto da noite. Quando chego nas boates, sou anunciado. Meu eleitor sabe como sou — disse Virgílio.
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Corpo-a-Corpo: JEANY MARY CORNER
‘Todos me procuravam 24 horas’

Durante uma hora de conversa por telefone, quinta-feira passada, Jeany Mary Corner chegou a chorar. Ela afirmou que não vai abrir a boca sobre alguns segredos da República.

Apesar do desespero, a senhora vai manter a boca-de-siri?

JEANY MARY CORNER: Adorei a homenagem do “Siri na Lata” (foi convidada para ser destaque do bloco em Recife no carnaval) e vou continuar de boca fechada, apesar de tudo. Minha situação é crítica. Só não peço esmola porque não tenho bacia.

A senhora vai retomar suas atividades no ramo de entretenimento masculino?

JEANY: Minha profissão é mista. Também faço eventos. Mas quero voltar a trabalhar em março. Quero ter minha vida normalizada.

A política faz parte dos seus planos?

JEANY: Pensei em disputar um mandato. Mas não vou me candidatar. Porém, de alguma forma, estarei no foco dessas eleições. Nessa campanha muita gente vai precisar de mim. Estão me procurando. Querem que eu fale sobre a minha experiência em Brasília.

Está sendo procurada para contar sua história?

JEANY: Sim. Recebi muitas ofertas para falar. São propostas para livro, revista e até de políticos. Mas estou em silêncio. Espero que reconheçam o meu gesto. Até porque na minha profissão é preciso ser discreta. Quero ainda ter uma grande carreira. Vou continuar nessa atividade, é isso que sei fazer.

A senhora se considera discreta?

JEANY: Lógico. Estou há 19 anos em Brasília e nunca fui ao Congresso. Ninguém nunca me viu lá! Nunca liguei para ninguém. Sempre fiquei na minha casa. Mas recebo muitos telefonemas. É aquela velha história: só existe demanda porque há procura.

A procura pelos seus serviços é grande em Brasília?

JEANY: E como! E olha que a procura é nos três poderes. O meu celular de trabalho não parava de tocar. E o nome dos meus clientes aparece no celular. Todos me procuravam 24 horas. Gente importante que eu não posso falar o nome. Adoravam tomar uísque comigo. Mas todo mundo se afastou de mim. Só Deus sabe o que estou passando. Fui escorraçada depois que citaram o meu nome na CPI. Tem muito hipócrita nessa CPI. Quero dizer que só eu não falei nada. Porque muita gente abriu a boca. Mas podem ficar tranqüilos que eu não vou pirar (e falar).
(Gerson Camarotti para O Globo)