REVISTA ISTOÉ 16/01/1985

ISTOÉ. O país, da direita à esquerda , tancredou. Menos o PT. Você não se
sente politicamente isolado ?

Lula. Não estamos isolados. Ainda hoje, segundo as pesquisas realizadas, 80%
da população continua preferindo as eleições diretas. E, depois, política não
se faz pensando apenas no presente; política se faz pensando no futuro. Temos
que dar um tempo, quem sabe, seis meses, um ano, para ver quem é que está
errado no país, para ver quem acertou.


ISTOÉ. O PT, então, deixa de comparecer ao Colégio Eleitoral, na terça-
feira, para marcar uma posição de princípios?

Lula. Claro que não. Não se faz política apenas com princípios; faz-se
política, como se sabe, de acordo com os interesses do conjunto da sociedade
e do núcleo social que seu partido tenta representar. Por isso, quando
Tancredo aceitou ir ao Colégio Eleitoral, não fechamos questão imediatamente
contra ele. Entendemos, porém, que, para apoiá-lo, deveríamos extrair dele o
máximo de benefícios para a classe trabalhadora. Mas ele não nos concedeu
nada.


ISTOÉ. Que o PT pediu a Tancredo para ir ao Colégio Eleitoral?

Lula. Pouco depois que Tancredo aceitou ir ao Colégio Eleitoral, tive uma
reunião com vários homens da oposição, em Brasília, como o próprio Ayrton
Soares, hoje dissidente do PT, Miguel Arraes, Alencar Furtado, Chico Pinto, o
governador Leonel Brizola, Bocaiúva Cunha, Pimenta da Veiga e outros
deputados da chamada ala progressista do Parlamento brasileiro. Queria
discutir com eles a possibilidade de arrancar de Tancredo alguns compromissos
com a classe trabalhadora em troca de nossos votos, cerca de oitenta a cem,
já que poderíamos contar, além da adesão dos petistas, com os demais
parlamentares vinculados à esquerda do PMDB, do PDT, bem como do PCB e do PC
do B.

ISTOÉ. E por que fracassou a formação desse bloco interpartidário da
esquerda?

Lula. Porque a Frente Liberal foi muito mais hábil e inteligente, reunindo o
número de votos que Tancredo precisava para vencer no Colégio Eleitoral e
chegando antes para negociar com ele. A Frente Liberal, a partir daí, passou
a determinar a política do futuro governo. Constatamos, hoje, que o vice-
presidente Aureliano Chaves possui tanta força quanto Tancredo. Sabemos
também que Aureliano tem um poder de fogo que toda a esquerda junta não tem.
Por quê? Porque ele negociou a mercadoria que tinha, que eram os votos no
Colégio Eleitoral, enquanto a esquerda, não. A esquerda, apavorada com a
possibilidade da vitória do Paulo Maluf, aceitou tancredar, de graça, sem
exigir nada em troca.

ISTOÉ. Quais são, concretamente, as reivindicações do PT?

Lula. Pouco antes da votação, no Congresso, da emenda das diretas, aprovamos
numa convenção dez pontos de reivindicações. O primeiro deles é o reajuste
trimestral de salários para todos os brasileiros. Colocamos também a questão
do fim da Lei de Segurança Nacional, a total liberdade sindical, o direito de
greve, uma nova política econômica, mais voltada para as necessidades dos
trabalhadores, uma nova política também para a Previdência Social e a
habitação. Outra coisa fundamental: que os trabalhadores controlem os fundos
que são, compulsoriamente, recolhidos em seu nome. Vamos continuar lutando
por esses pontos.