7.1.06

Jornal do governo omite "mensalão"

Preparada pelo Planalto, cartilha é divulgada como "balanço da gestão Lula"

O leitor que tiver acesso a um exemplar do jornal que o Palácio do Planalto preparou sobre os três anos da gestão Luiz Inácio Lula da Silva não verá quase nenhuma menção às denúncias de corrupção que derrubaram parte da cúpula do governo.
Além da praticamente total omissão à crise do "mensalão", no balanço não há lembranças ou simples citações à recente derrapada da economia, aos buracos nas rodovias federais e às milhares de famílias sem terra acampadas em todo o país.
O "jornal de prestação de contas", de 36 páginas e com tiragem de 1,2 milhão de exemplares, segue a linha ensaiada por Lula para a campanha eleitoral, quando promete comparar números de seu governo com os da gestão tucana de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Em formato tablóide (meio jornal), o balanço traz comparações em diferentes áreas, como controle do desmatamento, turismo, agricultura familiar, agronegócio e exportações. Essa é a sexta edição da chamada "prestação de contas", a primeira em versão jornal. As quatro primeiras foram revistas, e a última, veiculada em versão on-line no site da Presidência.
O jornal, produzido pela agência Lew, Lara por R$ 976 mil, começou a ser distribuído ontem a agentes públicos de todo o país, especialmente prefeituras, escolas, bibliotecas, consulados, embaixadas e setores do Legislativo e do Judiciário.
O PSDB afirmou que estuda ações na Justiça contra a propaganda. "O governo está antecipando a campanha eleitoral e isso não pode ser aceito. O PSDB estuda acionar tanto a Justiça Eleitoral quanto a comum", diz o deputado Eduardo Paes (RJ), secretário-geral do partido.
Na capa, o jornal traz a manchete "Mais Desenvolvimento, Menos Desigualdade" e citações sobre a criação de empregos, o aumento das exportações e o Bolsa-Família, programa de transferência de renda que deve se transformar num dos carros-chefes da virtual campanha de Lula à reeleição. "E o salário mínimo real em 2005 ficou 23% superior ao vigente em dezembro de 2002", diz uma das chamadas da primeira página.
Um resumo geral da gestão aparece no editorial da página dois. Nele, o governo fala numa economia estável e em crescimento. E faz a avaliação de que "a superação dos enormes desafios históricos não se dá em apenas 36 meses de governo".
O tema da corrupção, que dominou a crise política vivida pelo governo federal no ano passado, é citado de forma discreta e sutil na página 33. O destaque é para as ações de fiscalização da Controladoria Geral da União nas administrações municipais. Em meio a esse texto, menciona-se num único parágrafo a auditoria especial nos Correios, criada, segundo o jornal, "em conseqüência das denúncias divulgadas pela mídia".
Na mesma página, há um texto sobre as ações da Polícia Federal no qual é enfatizado o combate à lavagem de dinheiro. Investigações em torno do "mensalão", que mobilizaram agentes da corporação nos últimos meses, são ignoradas no jornal do governo.
Aos transportes, tema que nas últimas semanas dominou a agenda do presidente Lula, foram reservadas três páginas. Uma delas trata das ações do governo nas rodovias do país. Não há, porém, qualquer tipo de citação, mesmo que de forma discreta, sobre a situação precária das estradas federais, onde, nesta segunda-feira, será iniciado um programa emergencial de recuperação.
FSP

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