Whitaker se desliga do PT e diz que partido é "sonho que desmoronou"
ELIANE CANTANHÊDE para FSP
O PT sofreu mais uma perda já no primeiro dia do ano: Francisco Whitaker, 74, membro da Comissão de Justiça e Paz da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e do comitê organizador do Fórum Social Mundial, divulgou carta de oito páginas, ontem, desligando-se do partido.
"O PT foi um sonho que desmoronou", disse ele à Folha, por telefone. Como na carta, falou em "decepção", avisou que não vai se filiar a outro partido e deixou dúvidas sobre a intenção de votar em Luiz Inácio Lula da Silva.
"Ao deixar-se infectar, profundamente, por todas as mazelas do mundo político, o atual PT levou de roldão o partido de tipo novo que procurávamos construir. Hoje ele não está voltado para a sociedade injustiçada, para ouvi-la e procurar responder aos seus anseios", disse, na carta.
Para ele, "separadas do povo, suas instâncias dirigentes esqueceram, de vez, até as inovações que o próprio partido tinha criado para a participação popular".
O que houve no PT, na sua opinião, foi um "desmonte que é comparado, por muitos, à queda de um novo muro de Berlim, tal a esperança que a "experiência" brasileira, com a eleição de Lula, fez surgir no mundo". Segundo ele, este foi o resultado da integração do partido às instituições políticas e às eleições: "Ele foi pouco a pouco se deformando e conheceu uma dramática involução".
Whitaker explica, na carta, porque não quis lutar dentro do PT para corrigir erros: "Se hoje reluto a engajar-me em operações de "salvamento" do partido, é (...) para não me deixar engolir por uma esquizofrenia paralisante".
"Lula pode até vir a ser reeleito e entrar na nossa história como um presidente bastante razoável, com mais sensibilidade social que aqueles que o precederam, sem autoritarismos prepotentes nem repressão. (...) Mas receio que um novo governo Lula talvez não passe, lamentavelmente, de um mal menor", afirma, em sua carta.
Apesar de Whitaker não ter mandato parlamentar, sua desfiliação é um baque no partido e no governo sobretudo por seu papel de liderança em movimentos para mobilizar a opinião pública contra a corrupção e a favor de melhores regras eleitorais e de definição de políticas públicas.
Em 2000, foi um dos líderes da iniciativa popular, com mais de um milhão de assinaturas, que modificou a punição de candidatos por crime eleitoral e apressou a cassação dos eleitos. Mais de 300 políticos, de vereadores ao senador João Capiberibe (PSB-AP), já foram cassados a partir dessa lei.
Arquiteto, exilado político por 15 anos, ele se filiou ao PT em 88 para tentar a vida parlamentar como vereador entre 89 e 96.
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