16.1.06

Jogo viciado entre Caixa e Gtech

O Globo
O primeiro relatório produzido pela CPI dos Bingos no Senado vai pedir ao Ministério Público Federal o indiciamento de 35 pessoas, entre as quais ex-assessores de ministros e ex-diretores da Caixa Econômica Federal (CEF). Elas participaram direta ou indiretamente de um negócio milionário e suspeito: a renovação do contrato de R$ 650 milhões da estatal com a multinacional de loterias Gtech. O documento, que tem 150 páginas e será apresentado na quarta-feira, conclui que há indícios contundentes de que o negócio foi fechado mediante pagamento de propina. E pede a anulação do contrato, previsto para vigorar até maio.

O relatório, do senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), traz uma lista de crimes que teriam sido cometidos durante as negociações, como corrupção, formação de quadrilha, improbidade administrativa e prevaricação. Será pedido o indiciamento do advogado Rogério Buratti, ex-assessor do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na Prefeitura de Ribeirão Preto, e do ex-assessor parlamentar da Casa Civil Waldomiro Diniz, que ocupou o cargo quando a pasta era comandada pelo deputado cassado José Dirceu (PT).

Waldomiro e Buratti são acusados de tentar extorquir R$ 6 milhões dos diretores da Gtech usando a influência que tinham junto aos ministros. Não há, porém, provas de envolvimento de Palocci e Dirceu, que serão apenas citados no relatório. Em depoimento à CPI, Buratti disse que foi procurado pela multinacional e levou a proposta a Palocci, que não só teria recusado como determinado que a CEF endurecesse a negociação. Palocci nega.

Ex-diretores da Caixa estão na lista

A CPI também vai pedir o indiciamento de três ex-dirigentes da Caixa no governo de Fernando Henrique Cardoso: Danilo de Castro, Sérgio Cutolo e Emílio Carazzai. Estão na lista ainda os executivos da Gtech Antônio Carlos Lino Rocha e Marcelo Rovai.

— A investigação não nos levou ao sujeito que entregou a propina, mas reforçou, e muito, os indícios de que a renovação do contrato foi fechado após o pagamento da propina — disse o relator Garibaldi Alves.

O principal indício foi a descoberta da participação da MM Consultoria, um escritório de advocacia de Belo Horizonte, que recebeu R$ 5 milhões da Gtech. Em depoimento à CPI, seu dono, o advogado Walter Santos Neto, não explicou o que fez com o dinheiro, já que declara não ter patrimônio, dando à CPI a suspeita de que a empresa foi usada como laranja para o pagamento da propina.

O relatório trata exclusivamente da renovação do contrato das loterias da Caixa. Depois de votado e aprovado, a CPI vai se concentrar nos casos de suposto tráfico de influência praticado por ex-assessores de Palocci e nas investigações do assassinato dos prefeitos petistas Celso Daniel (Santo André) e Toninho do PT (Campinas).

Depois de quase um mês parada, a CPI dos Bingos retoma hoje os trabalhos. O presidente da comissão, senador Efraim Morais (PFL-PB), tem como prioridade agendar o depoimento de Palocci. E até já reservou a última semana de janeiro para isso. Antes do início do recesso parlamentar, Palocci enviou uma carta à CPI se colocando à disposição para retornar espontaneamente ao Congresso, sem a necessidade de uma convocação.

— A vinda do ministro é extremamente necessária e ele tem que atender ao convite em função da carta que enviou à CPI. Ou voltaremos a discutir a sua convocação — disse Efraim.

O primeiro depoimento da CPI será amanhã: o economista Paulo de Tarso Venceslau, militante expulso do PT que desde 1997 acusa o partido de desviar recursos de prefeituras do interior de São Paulo.

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