Ministro da Fazenda deve marcar hoje data de sua ida à comissão que investiga os bingos
Sob ameaça de convocação, Palocci decide falar na CPI
Ameaçado de ter a convocação aprovada para depor na CPI dos Bingos, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) decidiu comparecer à comissão. O ministro conversou no sábado com o senador Tião Viana (PT-AC), integrante da CPI, e disse estar disposto a depor nos próximos dias.
Palocci deverá enfrentar seu mais duro teste público desde que assumiu o ministério. Ele usou de vários artifícios protelatórios e chegou até a ameaçar que deixaria o cargo caso tivesse que depor em uma comissão parlamentar.
As acusações de corrupção foram responsáveis pelo enfraquecimento de Palocci na disputa interna do governo sobre os rumos da política econômica. A agenda negativa tira força do ministro para se contrapor a colegas de governo e do PT que vêem excesso de conservadorismo da pasta.
A oposição, que domina a CPI dos Bingos, pretende questionar o ministro sobre questões embaraçosas: o suposto recebimento de propina da empreiteira Leão Leão quando ele era prefeito de Ribeirão Preto, o tráfico de influência de seus assessores no Ministério da Fazenda e o caso do suposto transporte de caixas contendo dólares de Cuba para a campanha presidencial do PT de 2002, ao qual seus assessores e ex-assessores também estariam ligados.
O presidente da comissão, senador Efraim Morais (PFL-PB), deve marcar hoje com o ministro a data do depoimento. Nas últimas semanas, Efraim não descartava convocar Palocci caso ele não aceitasse o convite.
Segundo o relator da CPI, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), o fato de Palocci comparecer espontaneamente deve "quebrar a tensão" do depoimento. "Cria-se um clima mais amistoso. Se ele [Palocci] tivesse se recusado terminantemente a vir, acredito que o clima seria bem diferente", disse ele.
Ainda no ano passado, o ministro falou à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e à Comissão de Finanças da Câmara. Apesar de ter falado sobre as denúncias à época, muitos deputados e senadores se recusaram a fazer perguntas sobre as acusações.
Garibaldi disse ainda que pretende saber do envolvimento do ministro com uma casa em Brasília, montada em 2003, a qual um de seus ex-assessores admitiu usá-la para "fazer negócios". Palocci tem negado sistematicamente estar ligado às acusações.
"Amanhã [hoje] devo conversar com o senador Tião e o próprio ministro para marcarmos a data, que deve ser ainda nessa semana", afirmou o presidente da CPI.
Segundo o relator da comissão, "não há muitas perguntas a fazer" ao ministro sobre o caso GTech, no qual a empresa é acusada de irregularidades e pagamento de propina para a prorrogação de seu contrato de R$ 650 milhões com a Caixa Econômica Federal. "Ele [Palocci] não teve participação direta", afirmou Garibaldi Alves. A CPI deve votar, também nesta semana, o relatório parcial do caso, que envolve ex-assessores do ministro.
República de Ribeirão
A oposição pretende explorar, no depoimento, qual o conhecimento de Palocci sobre a atuação dos assessores e ex-assessores que o acompanham desde que ele foi prefeito de Ribeirão Preto. Palocci comandou a cidade por duas vezes, de 1993 a 1996 e de 2001 a 2002, quando deixou o cargo para assumir o Ministério da Fazenda.
Entre os nomes sobre os quais pesam acusações estão Rogério Buratti, secretário de Governo na primeira gestão de Palocci em Ribeirão. Acusado de tentar extorquir dinheiro da GTech para facilitar a renovação do contrato com a Caixa, Buratti disse em depoimento ao Ministério Público, para que pudesse ser beneficiado pela delação premiada, que Palocci e seu sucessor, Gilberto Maggioni, recebiam R$ 50 mil mensais da Leão Leão, empresa de coleta de lixo, e repassavam o dinheiro para o PT usá-lo em campanhas.
Ex-secretário da Fazenda de Palocci em sua segunda gestão em Ribeirão, Ralf Barquete, morto em 2004, seria o operador desse esquema. Buratti afirmou ainda que foi Barquete quem lhe contou sobre o suposto recebimento de dinheiro cubano para o PT.
Outro nome que deve ser explorado no depoimento é o de Ademirson Ariovaldo da Silva, ex-chefe-de-gabinete de Palocci na prefeitura e, hoje, seu assessor especial. A CPI identificou 1.434 telefonemas entre ele e Vladimir Poleto, outro ex-secretário de Palocci em sua segunda gestão.
Poleto é suspeito de transportar caixas contendo os supostos dólares de Cuba, o que ele nega. Ambos dizem que trocaram telefonemas por serem amigos.
O telefone de Ademirson está registrado em nome do Ministério da Fazenda. Palocci o utiliza eventualmente. "Precisamos esclarecer os lobbys desses assessores, já no momento do atual governo", disse o relator da CPI.
FSP
3 comentários:
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