1.1.06

JUCÁ DEVE SAIR

Editorial FSP
Tornou-se insustentável a permanência de Romero Jucá à frente do Ministério da Previdência. O acúmulo de escândalos e atividades suspeitas que envolvem o ministro exige que se tome uma atitude à altura da gravidade da situação: Jucá deve renunciar ao cargo. Caso não o faça, é de esperar que o presidente da República, responsável por sua nomeação, pelo menos o afaste até que se esclareçam todas as acusações.
Não se trata de condenar o ministro, bem entendido. Caberá aos órgãos competentes investigar e à Justiça decidir sobre as denúncias que pesam contra ele. E Jucá é inocente até prova em contrário. Criou-se, porém, uma incompatibilidade irremediável entre a imagem pública do ministro e o decoro mínimo que se exige para o exercício de um cargo de tamanha responsabilidade pública.
Não bastassem as fazendas inexistentes oferecidas como garantia para empréstimos bancários, não bastassem as dívidas com o INSS que ele, ironicamente, agora chefia, não bastassem os indícios de uso irregular, como cabos eleitorais, de funcionários públicos contratados pela prefeita de Boa Vista -sua mulher, Teresa Jucá-, não bastasse tudo isso, Jucá agora é acusado também de fraude pela Receita Federal.
Esta Folha revelou ontem que o titular da Previdência seria o maior protagonista e um dos beneficiários do desvio de verbas públicas ocorrido na década de 90. Hoje calculado em torno de R$ 1,45 milhão, o valor apropriado indevidamente seria, em princípio, destinado a uma fundação filantrópica que o próprio Jucá havia criado em Roraima, em 1989. O modo no mínimo estranho como o caso foi arquivado pelo TCU, sem que as acusações feitas pela Receita tivessem sido esclarecidas, pedem um novo e mais cuidadoso exame.
É lamentável que a reforma ministerial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após longos capítulos de novela fisiológica, tenha tido desfecho não só pífio mas verdadeiramente nocivo à vida republicana. É o país que hoje paga por um gesto tão desastrado -e o presidente é o primeiro que deve ser cobrado pela concessão política que fez ao PMDB.