12.1.06

Dinheiro sem dono!

CPI não consegue detectar destino de R$ 70 mi movimentados por doleiro

A CPI dos Correios não conseguiu detectar origem e destino de R$ 69,8 milhões movimentados pelo doleiro Najun Turner em suas contas pessoais no Banco Real, entre 2000 e 2005. O banco entregou à CPI dados incompletos, que não permitem identificar beneficiários ou depositantes de um total de R$ 6 bilhões de diversas empresas e pessoas investigadas pela comissão.
A planilha completa das operações não explicadas pelo banco, à qual a Folha teve acesso, aponta 33 mil registros em que o campo do beneficiário ou do depositante é descrito como "não informado". Também está zerado o espaço dedicado ao CPF (Cadastro da Pessoa Física) ou CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica).
O Banco Real, em nota de anteontem, considerou que as falhas afetam apenas 1% de um total de 30 mil operações, e prometeu corrigir as imperfeições.
As maiores movimentações sem registro de entrada e saída no período 2000-2005 são as da Visanet (R$ 3,6 bilhões), da Skymaster Airlines (R$ 1,1 bilhão), da Telemig Celular (R$ 866,9 milhões) e da Amazônia Celular (R$ 237,4 milhões).
Até uma conta pessoal do ex-ministro José Dirceu permanece mal explicada pelo banco. Operações que somam R$ 200 mil ao longo de cinco anos também estão em branco.
Najun Turner, um dos protagonistas da Operação Uruguai, montada por auxiliares do ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) para justificar gastos pessoais desproporcionais, foi preso pela Polícia Federal em março de 2005 acusado de crime contra o sistema financeiro.
Turner passou a ser investigado pela CPI dos Correios depois que seu nome e de familiares apareceram como destino de recursos da corretora Natimar, que mantinha negócios com a corretora Bônus-Banval -usada pelo PT para destinar recursos ao PP.
Em depoimento à CPI em outubro, Turner afirmou que os recursos eram empréstimos pessoais concedidos por Enivaldo Quadrado, sócio da corretora: "O que eu tive conhecimento foi de uma transferência de R$ 117 mil para a conta de minha senhora. Falei que devia ser a somatória de depósitos de R$ 2 mil, R$ 3 mil ou R$ 4 mil de créditos que eu tinha recebido, tanto da Bônus, como da Natimar. Muitas vezes eu solicitava (...) porque a conta de minha senhora sempre está descoberta".

Duda Mendonça
A área técnica da CPI também está às voltas com falhas na identificação de origem e destino de operações nas contas de empresas do publicitário Duda Mendonça em agências do BankBoston.
Entre 2000 e 2005, de um total de R$ 1,07 bilhão, R$ 481 milhões ficaram sem explicação por falha do banco -R$ 110 milhões de entradas e R$ 371 milhões de saídas. O publicitário enviou uma carta à CPI para dizer que suas empresas receberam R$ 56 milhões entre 2003 e 2005 por serviços prestados a clientes do governo e privados. Segundo ele, "trata-se de valor normal para o período de tempo analisado".
Em nota divulgada ontem, a Skymaster não reconheceu os números entregues pelo Banco Real à CPI, que chamou de "errados". "Embora parte integrante das investigações, a empresa não tem acesso a qualquer informação relativa não só a esses documentos entregues pelo Banco Real como a outros dados entregues por outras instituições financeiras no processo de quebra de sigilos. Portanto, não tem como analisá-los e protesta contra o fato de que informações dessa natureza estejam circulando primeiramente junto à imprensa", diz a nota.
FSP