18.1.06

Amigo de Lula fazia caixa 2

Em depoimento à CPI, Paulo de Tarso Vasconcelos disse que Paulo Okamotto fazia arrecadação irregular desde 1993; ex-tesoureiro nega

Amigo de Lula fazia caixa 2, diz ex-petista

Presidente do Sebrae e amigo que diz ter pago em 2004 uma dívida de Luiz Inácio Lula da Silva, Paulo Okamotto fazia caixa dois para o PT em prefeituras desde 1993, acusou ontem, na CPI dos Bingos, o ex-militante petista Paulo de Tarso Venceslau, 62.
Ex-prefeita de São José dos Campos, a deputada Angela Guadagnin (PT-SP) confirmou que Okamotto a procurou atrás de listas de empresas fornecedoras da prefeitura. Ela disse que enviou o caso a Venceslau, então secretário de Fazenda da prefeitura.
"Okamotto não era um Marcos Valério, estava mais para Delúbio [Soares]. O que fica desse episódio é que se conhecia o esquema de arrecadação paralela há muito tempo, desde 1993", disse.
A dívida de R$ 29,4 mil de Lula paga por Okamotto era com o PT e foi registrada na prestação de contas do partido de 2003.
Venceslau foi expulso do PT em 1998 por ter dito que as prefeituras petistas favoreciam a empresa Cpem, cujo representante seria Roberto Teixeira, "compadre de Lula". Este nega ser dono da empresa ou ter participado do suposto esquema. A Cpem prestava consultoria para aumentar a arrecadação de impostos nas cidades.
À CPI, Venceslau disse que vetou contrato da Cpem com a Prefeitura de São José dos Campos em 1993, na gestão Angela Guadagnin, e por isso foi demitido.
Guadagnin disse que demitiu Venceslau em 1993 devido às dificuldades de relacionamento dele com secretários e vereadores. Ela disse que o contrato com a Cpem era do governo anterior ao seu e que, após auditoria que apontou fraude, a prefeitura rompeu relação com a empresa.
Questionada se era um procedimento normal a atitude de Okamotto de percorrer prefeituras, Guadagnin disse: "Não estou dizendo se era dinheiro ou caixa dois, mas que ele poderia se apresentar a um fornecedor, a qualquer empresa e solicitar doação".
As primeiras acusações de Venceslau surgiram em 1997. Em 1995, ele havia mandado carta a Lula, então presidente do PT, relatando supostas irregularidades. Houve apuração, mas o resultado foi a expulsão de Venceslau.
O hoje líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), segundo Venceslau, teria dito na época que havia "comentário" de uma arrecadação paralela. A reportagem não conseguiu falar com Chinaglia ontem.

Sigilo
O presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), disse que colocará em votação a quebra dos sigilos de Okamotto.
Pela assessoria, Okamotto informou que não comentará as declarações porque já as negou em novembro. O PT disse que não comentaria o assunto. A assessoria do Planalto não se manifestou.
Efraim Morais disse que a CPI tomará o depoimento do médico-legista Paulo Vasques. Ontem, a Folha publicou que Vasques apontou que Celso Daniel, prefeito de Santo André (PT), foi torturado antes de ser morto em 2002.
A data do depoimento de Vasques não foi definida porque Efraim espera resposta do ministro Antonio Palocci sobre o convite para depor. Se Palocci não responder, diz, sua convocação será votada na próxima semana.
FSP