Frase é do ex-presidente José Luiz Guedes; outros antigos dirigentes divergem sobre a função da entidade hoje
A União Nacional dos Estudantes (UNE) padece hoje de “certo oficialismo”, afirma o ex-presidente da entidade (1966/68) e ex-deputado federal José Luiz Guedes, filiado ao PC do B. Ele diz que isso já prejudicou a UNE à época de sua fundação, em 1937 (quando a entidade aderiu à ditadura getulista), e no pré-1964, quando ela se confundiu com o governo João Goulart. Esses ciclos, segundo Guedes, sufocam a rebeldia. “E sem rebeldia não há movimento estudantil”, arremata.
A UNE completa 70 anos no dia 13 de agosto e encerrou ontem seu 50º congresso, que acabou sendo um desfile de posições radicais entre partidos de esquerda que compõem o seu espectro, como o PC do B, o PT, o PSOL, o MR-8 e muitas pequenas tendências trotskistas. Ontem, a gaúcha Lúcia Stumpf foi eleita presidenta para o biênio 2007/09. Ela é a 10ª dirigente do PC do B que ocupa o cargo seguidamente.
Outro ex-presidente, Cláudio Langone (1989/91), ex-secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente, vinculado ao PT, afirma que a UNE tem grande dificuldade de modernizar sua agenda. Para ele, há dois pontos essenciais que hoje seriam do interesse da grande massa de estudantes - qualidade do ensino e inserção no mercado profissional. “Mas a UNE tem insistido na luta político-ideológica e na questão da reforma universitária”, observa.
O ex-presidente Aldo Arantes (1961/62), ainda vinculado ao PC do B, discorda e afirma que a UNE persiste na agenda da reforma universitária - que é sua principal reivindicação desde 1937 - com o conteúdo sempre renovado. “A reforma que a UNE cobra hoje tem outra cara”, salienta. Para ele, a eleição de Lula permitiu uma nova articulação do movimento social; a UNE tem de apoiar esses “avanços” mas guardar distanciamento crítico do governo.
Jean Marc van der Weid (1969/71) - que seria eleito no congresso de Ibiúna e só tomou posse meses depois - diz que a UNE hoje tem peso político bem menor. “E isso é bom”, sublinha. Mas ele sente falta de ver a entidade discutindo objetivamente um projeto para o País. Ele, hoje consultor de agronomia, aponta um envolvimento excessivo da UNE com o governo Lula: “Quem critica o governo é logo tachado de direita. Não pode ser assim.”
O deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), presidente no biênio 1980/81, acha que a UNE criou a tradição de defender, ao longo do tempo, bandeiras históricas, embora reconheça que o perfil dos universitários brasileiros mudou. Ele discorda das eleições diretas - embora tenha sido eleito numa - porque não haveria fiscalização eficaz.
Guedes condena excessos do movimento estudantil atual. “Não existe esse negócio de mídia golpista. Insistir nisso é ridículo”, comenta ele, um dos presos de Ibiúna. Langone critica a hegemonia dos partidos na UNE. “Os líderes acabam representando as tendências de seus partidos, de uma maneira pouco qualificada, porque são inexperientes”, diz. Ele pede eleições diretas para a direção.
Estadão
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