Sindicatos preparam ofensiva para aproveitar crescimento da economia
Categorias que envolvem 15 milhões de trabalhadores, incluindo metalúrgicos e bancários, cobram reajuste real de salários
Diante do crescimento econômico, as categorias com data-base no segundo semestre se preparam para cobrar a sua parte nos ganhos obtidos pelas empresas com a recuperação da economia. É neste semestre que se concentram as campanhas salariais de mais de 15 milhões de trabalhadores das categorias mais organizadas do País, como metalúrgicos, bancários, eletricitários, químicos e petroleiros.
Para os sindicalistas, a expansão da economia, num cenário de inflação baixa, juros em queda e crescimento do emprego, abre espaço para aumentos reais de salários, maior participação nos lucros das empresas e cláusulas sociais. Eles têm pressa em iniciar as negociações e advertem que a greve voltou a ser um instrumento de pressão, num momento em que as indústrias já firmam contratos para o Natal, especialmente com fornecedores no exterior.
Na semana passada, representantes dos 250 mil metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Estado de São Paulo entregaram aos patrões as reivindicações da categoria, cujas datas-base estão divididas entre agosto (máquinas e eletrônicos), setembro (montadoras, autopeças e fundição) e novembro (lâmpadas, estamparias, entre outras).
Segundo o presidente da Federação dos Sindicatos Metalúrgicos da CUT/SP, Valmir Marques, a campanha tem como eixos principais o aumento real dos salários, a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, sem redução dos salários, e a unificação dos pisos e das datas-base de todos os grupos para setembro.
Essa última reivindicação prepara terreno para a abertura de negociações visando à implantação de um contrato coletivo nacional, que englobaria os cerca de um milhão de metalúrgicos da central em todo o País. Entre os benefícios desse contrato, está o piso de salário nacional. Hoje, os salários são desproporcionais nas diferentes regiões do País, já que as negociações são regionais.
O sindicalista explica que o índice de aumento real nos salários ainda não foi definido, mas será fixado de acordo com os desempenhos de cada segmento metalúrgico. Ele cita que os recordes de produção e de vendas da indústria automobilística e o crescimento da indústria em geral, estimado em mais de 4% para este ano, são alguns indicadores que influenciarão positivamente as negociações. 'Sem luta não há conquista, e não descartamos a realização de greves e paralisações em todos os setores para fazer valer o nosso direito', diz Marques.
ANTECIPAÇÃO
Com data-base em novembro, os 700 mil metalúrgicos da Força Sindical no Estado de São Paulo decidiram antecipar em um mês, de setembro para agosto, a definição da pauta de reivindicações . 'Queremos entrar no vácuo do crescimento econômico para conseguir um aumento real nos salários significativo', diz Eleno Bezerra, presidente da Confederação dos Trabalhadores Metalúrgicos da Força e do Sindicato de São Paulo.
Segundo ele, o índice de aumento real de salários só será definido no congresso da categoria, mas não deverá ser inferior ao do crescimento econômico, cuja taxa prevista pelo governo é de 4,7% em 2007. 'Se é para distribuir renda, nada mais justo do que repassar a taxa de crescimento da economia para os salários', defende Bezerra. 'Se não houver acordo na mesa de negociação, vamos paralisar empresas que se negarem a negociar, justamente no pico de produção para o Natal.
Outra categoria ligada à Força Sindical que decidiu antecipar campanha é a dos químicos, que reúne 700 mil trabalhadores paulistas com data-base em novembro. 'Vamos lançar nossa campanha já em meados de agosto para aumentar o tempo de mobilização da categoria, de forma a criar clima favorável à conquista de um bom acordo salarial', diz Sergio Luiz Leite, secretário-geral da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo.
Segundo ele, o aumento real será a principal bandeira da categoria, mas outras reivindicações deverão ganhar peso. Ele cita a qualificação profissional, principalmente nas indústrias de transformação do plástico, onde já começa a faltar mão-de-obra especializada.
Nos bancos, que têm acumulado lucros recordes nos últimos anos, a campanha salarial começa a decolar no fim do mês, quando os 420 mil bancários em todo o País definirão sua pauta de reivindicações. Primeira categoria a conquistar acordo coletivo de trabalho com validade nacional, os bancários têm data-base em setembro. 'Os eixos principais da campanha serão o aumento real e participação maior nos lucros e resultados das instituições financeiras', diz Luiz Carlos Marcolino, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, entidade filiada à CUT.
Em 2006, a maioria da categoria embolsou um prêmio de Participação nos Lucros ou Resultados (PLR) equivalente a dois salários mais um valor fixo que variou de R$ 1 mil a R$ 1,5 mil. Em média, os bancos distribuíram para os trabalhadores 12% do seu lucro a título de PLR. 'Não queremos discutir inflação, porque consideramos que os bancos têm de repor as perdas, e sim aumento real de salários', diz Marcolino.
Estadão
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