A renúncia do senador Joaquim Roriz, do PMDB do Distrito Federal, anunciada na noite de quarta-feira, provocou um rosário de explicações. Aliados de Roriz atribuíram a renúncia ao abandono do partido do senador, que não lhe teria prestado apoio suficiente dentro do Congresso Nacional. Explicaram, ainda, que a defesa do senador não foi analisada por seus colegas, que preferiram condená-lo antecipadamente. Também disseram que Roriz queria pelo menos mais vinte dias para se defender, mas também lhe negaram esse prazo. O próprio senador, em sua carta de renúncia, apontou algumas razões adicionais para sua renúncia: o "furor" da imprensa e a postura condenatória do corregedor do Senado, Romeu Tuma. Bem, as explicações configuram a tradicional cortina de fumaça, tentativa de encobrir a única explicação possível – a de que Roriz renunciou porque é culpado das acusações que lhe foram feitas e das quais não tem como se defender. Entre ser condenado e acabar com o mandato cassado, o que o deixaria inelegível até 2023, Roriz preferiu renunciar e preservar os direitos políticos. É só por isso.
Ninguém engoliu a explicação de que pegou um cheque de 2,2 milhões de reais do empresário Nenê Constantino, dono da Gol, ficou com 300.000 reais e devolveu o restante. Ninguém, nem os senadores. Na semana passada, ao ser confrontado com a reportagem de VEJA informando que usou uma parte da dinheirama, 1,2 milhão de reais, para comprar o voto de dois juízes do Tribunal Regional Eleitoral de Brasília, Roriz, já perto do nocaute, nem se deu ao trabalho de responder. Na noite de quarta-feira, ele mandou a carta de renúncia ao Senado e não apareceu por lá para lê-la – um gesto inédito na história da Casa. Na sua ausência, coube ao senador Mão Santa, do PMDB do Piauí, fazer uma leitura desesperadoramente silábica da carta, diante da presença de apenas cinco senadores. Fim melancólico.
As circunstâncias da renúncia de Roriz representam um fiel retrato do breve – e irrelevante – mandato do senador. Em cinco meses de atuação parlamentar, Roriz pouco produziu e muito custou. Apresentou somente três projetos. No plenário, o assento de Roriz esteve sempre vazio. Das 65 votações deste ano, ele esteve ausente em 47. Nas raras vezes em que apareceu no plenário, pouco disse. Subiu apenas doze vezes à tribuna, em geral para discursar rapidamente sobre temas amenos, como a visita ao Brasil do papa Bento XVI. Na única oportunidade em que se dirigiu à tribuna para se explicar sobre o cheque de 2,2 milhões de reais, só doze senadores estavam em plenário. Ao renunciar, depois de 154 dias de mandato, a aventura política de Roriz no Senado custara cerca de 500.000 reais aos cofres públicos. Deve custar ainda mais. Na semana passada, Roriz foi premiado por seu apoio ao governo Lula com a indicação de um afilhado político para uma poderosa vice-presidência da Caixa Econômica Federal. O afilhado, não coincidentemente, trabalhou por quatro anos no BRB, epicentro da roubalheira no Distrito Federal, e responde a processo por desvio de recursos públicos. O governo achou que o currículo era bom.
A renúncia de Roriz confirma o que parece ser um carma do eleitorado de Brasília, o de escolher senadores enrolados. Dos quatro que já renunciaram ao mandato para escapar da cassação na história do Senado, Brasília tem dois na lista: além de Roriz, o hoje governador do DF, José Roberto Arruda, também renunciou em 2001. Também é de Brasília o único senador cassado pelos colegas – o empresário Luiz Estevão, em 2000. Seguindo a tradição da cidade, o suplente de Roriz, o ex-deputado distrital Gim Argello, promete assumir o mandato causando confusão. Ele é acusado de grilagem de terras, entre outras falcatruas. Pelo jeito, o Senado terá um substituto à altura de Roriz.
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