É espantosa a capacidade da equipe do governo de ir de encontro às expectativas da sociedade. São atos ou declarações que mostram a distorção com que assessores próximos do presidente da República vêem o Brasil real. Eles costumam rebater a clareza dos fatos com invocação de teorias conspiratórias que serviriam apenas para abalar o prestígio político de Luiz Inácio Lula da Silva.
Na ânsia de manter intacta a imagem de Lula, teimam em manter os olhos vendados. Tentam encobrir a gravidade de acontecimentos com palavras ou gestos que denotam insensibilidade, falta de profissionalismo e pouco caso com o cidadão. O caos em que se transformou o sistema aéreo nacional deu provas da enorme distância entre a realidade e a ótica com que é vista.
Ao ser questionada a respeito do impacto da crise da aviação sobre a indústria do turismo, a ministra Marta Suplicy ironizou: “Relaxa e goza”. Com os dois verbos, escarneceu, em primeiro lugar, do sofrimento das famílias dos 154 mortos no acidente da Gol. Depois, dos milhões de brasileiros obrigados a enfrentar atrasos e cancelamentos de vôos, longas esperas em aeroportos, maus-tratos das companhias aéreas, insegurança de pousos e decolagens.
Outra não pode ser a interpretação dos gestos obscenos de Marco Aurélio Garcia. O assessor especial da Presidência, acompanhado de auxiliar, comemora a informação de que a tragédia da TAM — que ceifou a vida de 200 pessoas e espalhou indignação e pânico Brasil afora — teria sido causada por defeito no sistema de freios da aeronave.
Divulgada em rede nacional, a atitude deixou transparecer que, acima dos interesses nacionais, o importante para ele é aliviar a culpa do presidente no desastre. Mais tarde, justificou-se alegando ter tido a privacidade invadida. Pode ser. Mas a imagem vale mais que mil palavras.
Pouco antes, o ministro Guido Mantega elogiara a aplicação dos recursos da Infraero. Parecia desconhecer levantamentos fartamente divulgados por jornais, rádios e tevês. A estatal investiu, sim. Mas errou o foco. Em vez de cuidar do essencial — pistas, radares, computadores, recursos humanos —, voltou-se para o acessório. Transformou os aeroportos em shopping centers de luxo, em que não faltam nem joalherias, nem cinemas, nem brinquedotecas.
Já no quinto ano à frente dos destinos do país, é hora de tirar os óculos do país de OZ. O Brasil tem carências estruturais sérias. Se a administração como um todo e, em especial, os assessores mais próximos do Planalto não despirem os preconceitos e olharem as mazelas com realismo, a segurança, a saúde, a educação, as estradas, os portos, os aeroportos, os presídios, as Febens continuarão a marcha irreversível rumo à degradação. Atraso, é bom lembrar, não se improvisa. Cultiva-se.
Correio Brasiliense
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