Inacreditável. Revoltante. Terrível. A sociedade brasileira ainda trata as feridas pessoais e emocionais decorrentes da queda do Boeing 737 da Gol em Mato Grosso e já se vê às voltas com a obrigação de superar mais um trauma de gigantescas proporções. O acidente com o Airbus da TAM em Congonhas, mais grave em vítimas que o do ano passado, era a mais anunciada das tragédias, o resultado da sinistra mistura de incompetência e irresponsabilidade das autoridades que cuidam (?) da aviação comercial brasileira, a começar pelo presidente da República. A biografia política de Lula inclui agora mais de 170 novos obituários. A soma com os 154 do ano passado é a marca do desgoverno.
Quantas vidas mais serão ceifadas até que sejam demitidos e responsabilizados, civil e criminalmente, todos aqueles que falham desastrosamente há dez meses e expõem milhares de passageiros a risco de morte? O presidente Lula é culpado por omissão, por ter preservado um amigo no ministério sem considerar que a gestão de Waldir Pires à frente da crise aérea é um atentado à segurança institucional. Lula também é culpado por ter aceitado que a inoperância da Infraero contaminasse o conceito de segurança. Nas primeiras chuvas fortes, ocorrem dois acidentes causados por derrapagens em uma pista na qual foram gastos quase R$ 20 milhões em obras de recapeamento recentes e dadas como prontas, agora podemos ter certeza, sem o devido cuidado. De quem foi essa decisão assassina?
A segunda tragédia aérea em dez meses no Brasil destroça, definitivamente, o conceito de excelência de que o país dispunha no organismo de certificação aérea internacional mantido pelas Nações Unidas. O desastre com o jato da Gol e principalmente o caos estrutural que se seguiu acenderam a luz amarela nesse campo. Um a um, os elementos de um sistema vendido como seguro foram sendo desnudados diante de toda sorte de erros gerenciais e falhas de comando.
O fracasso desse modelo já era evidente desde que os desdobramentos do caso do jato da Gol tornaram a vida de quem depende de aviação um martírio. Há muito que se cobrava uma atitude mais decente das autoridades diante do receio de que um novo desastre pudesse ocorrer.
Congonhas é um aeroporto condenado. Chegou a um extremo no qual nem mesmo com todos os equipamentos mais modernos é possível se garantir a integridade física de quem voa por necessidade ou profissão. Mas Waldir Pires, do alto do seu currículo como gestor do sistema em colapso, discorda. Talvez, junto com a inepta Anac ache que estas 300 almas não são suficientes para perturbar sua consciência. Essa posição é inaceitável, ainda mais porque em aviação os acidentes sempre depõem contra a capacidade de administração do sistema.
Há poucas semanas, a União Européia baniu de todo o espaço aéreo do bloco as aeronaves de todas as empresas da Indonésia. Companhias africanas, especialmente nigerianas, são a maioria na lista negra dos organismos internacionais que certificam o tráfego entre continentes. O que estarão pensando os gestores dessa lista diante das cenas flamejantes do Airbus ardendo na cabeceira de Congonhas? Vale lembrar que, em mais de uma ocasião de apagão aéreo, algumas companhias americanas chegaram a esboçar a possibilidade de pedir que o espaço aéreo brasileiro fosse declarado inseguro diante das dificuldades.
É preciso parar Congonhas. Ninguém mais precisa ser exposto a riscos pelo governo, pela Infraero e pela Anac. É preciso também exigir que a avaliação sobre a garantia de pousos e decolagens seguros não esteja a cargo dos personagens de sempre.
Editorial JB
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