No Torto, Lula e o governo dançam de caipiras. Nos aeroportos, só dançam brasileiros travestidos, pelo governo, de palhaços. Daqui a pouco o comitê de crise do Planalto será forçado a convocar uma reunião de emergência. Na pauta, o interminável suplício dos passageiros nos aeroportos. A discussão, no entanto, não se dará em torno de soluções, mas de uma alarmante conclusão para os burocratas: o estoque de desculpas para a ineficiência chegou ao fim. E não há mais culpados a quem atribuir as responsabilidades.
A constatação é óbvia depois do fim de semana em que se assistiu a fita de sempre: vôos atrasados, desrespeito aos direitos de quem paga passagens e impostos, prejuízos pessoais e profissionais, sem falar num contínuo desgaste da imagem do país como um pólo de turismo importante no mundo. Do outro lado, as explicações surradas: neblina, falhas técnicas em equipamentos, chuva, excesso de vôos. Enfim, a prosperidade na visão "manteguiana".
A população tem escutado muita besteira em tecniquês, um artifício usado por quem não consegue justificar as próprias falhas e insiste em encobri-las diante de terceiros que pagam o seu salário. Culpar a neblina de Guarulhos é ridículo, um atentado à inteligência do cidadão. Mas é melhor do que ter de explicar por que o equipamento de auxílio ao pouso que tornaria o problema inócuo permanece sem operar, apesar de a Infraero arrecadar religiosamente as taxas referentes ao serviço. A falha já havia sido denunciada pelas companhias aéreas no ano passado. O que foi feito de lá para cá para mudar o quadro? Nada.
Também é fácil anunciar novas rotas aéreas, corredores exclusivos, deslocar radares extras, acionar o pessoal da Defesa Aérea e tudo permanecer exatamente igual. Para o passageiro que precisa voar, tanto faz se irá pela rota X ou pela rota Y. A questão é quando os jatos não decolam, algo que na definição obtusa da Infraero é o máximo da segurança.
Sábado foi dia de quadrilha na Granja do Torto. Enquanto o presidente desfilava vestido de caipira, acompanhado pelo comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, e de vários assessores e ministros, os passageiros vagavam por terminais de Guarulhos e de outros aeroportos adornados de bobos da corte. Saito havia recebido o crédito da população na última crise; como nada do que foi anunciado amenizou o problema, o brigadeiro pode fazer par na dança com o presidente do sindicato dos controladores, com o presidente da Infraero e com os burocratas que dirigem a Anac.
Aliás, justiça seja feita, a Agência Nacional de Aviação Civil reapareceu ontem depois de dois apagões (ou mais) em férias. O presidente Milton Zuanazzi rugiu trovões a respeito de uma investigação em torno da atuação das companhias aéreas.
Não somos um país de idiotas. A mesma invectiva já fora sacada no terceiro colapso, sem resultado. Passageiros vitimados pela incompetência e omissão da agência aguardam respostas, mas talvez estejam pressionando demais esses estressados burocratas: afinal, só agora estão conseguindo responder às reclamações surgidas quando da suspensão de vôos da Varig, há pelo menos dois anos.
Tudo está do avesso. Temos um presidente da República capaz de negociar com amotinados e de produzir em série ordens que só abastecem o anedotário nacional. Temos uma Infraero que cobra taxas de passageiros, mas os obriga a dormir no chão de granito de aeroportos em colapso. Temos empresas aéreas se comportando como vans de lotação, à revelia do direito do consumidor. Com o fracasso da intervenção militar, o ciclo se fechou. Salve-se quem puder.
Editorial JB
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