6.7.07

"Ganho com boi é fantasia"

"Ganho com boi é fantasia", afirma pecuarista

Os "pecuaristas políticos" estão fazendo "milagres" na pecuária e estão deixando curiosos os pecuaristas de fato. Estes querem saber como aqueles conseguem dobrar ou triplicar o capital em um período em que a pecuária passa por momentos tão difíceis.
"Estamos perplexos com esse mundo de fantasia. Isso é um milagre divino, e só acontece com alguns políticos." A afirmação é de Luiz Antonio Nabhan Garcia, presidente da UDR (União Democrática Ruralista). "Talvez eles [os "pecuaristas políticos"] sejam mais devotos do que nós e, por isso, sejam atendidos em suas preces", acrescenta.
Outro pecuarista, que prefere não se identificar, diz que estamos vivendo a versão moderna dos anões do escândalo do Orçamento da União. Ele se refere ao envolvimento de deputados no desvio de recursos do Orçamento, em 1993.
Nabhan diz que a pecuária vive um de seus momentos menos rentáveis e essa imagem de fantasia de lucratividade só atrapalha "os seres terrestres que vivem o dia-a-dia do setor". Nos últimos anos, tirando raras exceções, os pecuaristas só tiveram prejuízos. Mesmo nos casos em que houve lucratividade, o percentual não ultrapassa 0,7% ao ano, acrescenta.
Para ilustrar como está difícil a sobrevivência no setor, Nabhan diz que, em novembro de 2003, uma arroba de boi gordo era negociada a R$ 63. Após cair a R$ 45 em meses do ano passado, só agora a arroba retorna aos R$ 60, diz ele. "Nesse período, os custos dos insumos utilizados na pecuária, como fertilizantes, óleo diesel, vacinas, máquinas etc., tiveram acentuadas acelerações."
A agropecuária brasileira passou por várias mudanças nesta década. Viveu a euforia da soja, do reflorestamento e agora a da cana. Em todos os momentos, parte da expansão de área desses produtos ocorreu sobre as pastagens, devido à perda de lucratividade.
No Estado de São Paulo, muitos pecuaristas arrendaram suas propriedades para as usinas porque têm lucratividade de 3,5% a 4% do valor da terra. Os que insistem na pecuária conseguem apenas 0,5%.
Nabhan diz que os últimos anos foram difíceis e que os pecuaristas acumularam dívidas. "Pertenço à 5ª geração de uma família que sempre se dedicou à pecuária, mas estou indo para trás." Em tom jocoso, ele que, "nós, os pecuaristas de fato, vamos pedir uma audiência com os "pecuaristas políticos" para saber por que eles são tão competentes e como conseguem esse fenômeno da multiplicação dos lucros".
Um acompanhamento da rentabilidade do setor mostra que as coisas não vão bem na pecuária. O Anualpec 2007 -a principal publicação no setor- mostra que, em 2006, um pecuarista que se dedica à cria, recria e engorda extensiva de gado obteve lucro operacional de R$ 24,55 mil no ano, ou seja, R$ 2.046 por mês para um rebanho de 650 animais em Mato Grosso do Sul.
O problema maior é que, para para obter esse lucro, o pecuarista tem de manter um patrimônio imobilizado de R$ 3 milhões em terras, cercas, máquinas etc. Se esse dinheiro estivesse na poupança, o rendimento médio mensal seria de R$ 18 mil. Em um fundo de renda fixa, poderia atingir rendimento bruto de R$ 33 mil.
Os dados do Anualpec mostram que as dificuldades não se restringem ao Mato Grosso do Sul. Em Alegrete (RS), o retorno de rentabilidade de um pecuarista nas mesmas condições seria de apenas 1%, índice um pouco inferior ao 1,5% de Presidente Prudente (SP). Já em Alta Floresta (MT), haveria perda de 0,6%, e em Paragominas (PA), prejuízo de 0,8%.

Folha

Nenhum comentário: