12.7.07

PF busca dinheiro de campanha

A Polícia Federal vai aprofundar as investigações da Operação Águas Profundas nas organizações não-governamentais (ONGs) usadas pela quadrilha para lavar dinheiro de fraudes contra a Petrobras. Investigadores que atuam no caso admitem que pode haver envolvimento do grupo em esquema de financiamento de campanhas eleitorais. “Empresários do naipe dos que foram presos são sempre cooptados por políticos. Isso é bem provável que tenha acontecido neste caso”, afirma o delegado Cláudio Nogueira, comandante da operação que prendeu 14 pessoas na terça-feira. Para ele, é provável que haja novas fraudes contra a estatal.

Para a PF, a suspeita do envolvimento da quadrilha com políticos vem do fato de o esquema ser o mesmo que era usado no Rio para caixa 2 de campanhas eleitorais, por meio de ONGs. “As ONGs são as mesmas e com fins semelhantes aos utilizados em governos passados”, diz Nogueira, sem citar o nome da ex-governadora Rosinha Garotinho e de seu marido, Anthony Garotinho. O deputado Carlos Santana (PT-RJ) admitiu ontem que recebeu dinheiro do contador Ruy Castanheira, mas de forma legal, como demonstrou com documentos enviados ao Correio, mas negou que a PF tenha feito buscas em casa de seus assessores. Santana afirma ter enviado uma lista com os nomes de assessores ao ministro da Justiça, Tarso Genro. O ministro disse ontem que a operação é resultado de “um processo de saneamento do Estado brasileiro, de um governo que é absolutamente intolerante com a corrupção e vai continuar assim”.

Perícia
No inquérito, os principais indícios sobre a relação do grupo com políticos deverão surgir durante a perícia nos documentos apreendidos com integrantes da quadrilha. Um delegado e um perito foram transferidos ontem para o Rio para cuidar exclusivamente da análise do que foi apreendido na operação. “Vamos aprofundar as investigações e podem surgir fatos novos”, diz Nogueira, que antecipou a Operação Águas Profundas para terça-feira para aproveitar o grande contigente da PF, que está no Rio.

A PF suspeita que, além de lavar o dinheiro no Brasil, por meio de ONGs e empresas fantasmas, o grupo pode ter enviado dinheiro para o exterior. Se houver indícios disso no material recolhido, Nogueira pretende solicitar ajuda do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), órgão do Ministério da Justiça encarregado pelo rastreamento de depósitos no exterior.

Para o delegado, a ligação do grupo com ONGs ainda será um dos principais rumos que a investigação irá tomar. “Estamos ainda na ponta de um iceberg”, diz ele. A Policia Federal deve concentrar as investigações em torno de outras duas pessoas: o contador Ruy Castanheira e o ex-deputado estadual pelo Rio Aurélio Marques — que, segundo a PF, aderiu ao grupo em troca de pagamento de propina ainda quando exercia mandato.

Já Castanheira é qualificado no relatório da PF como “o principal idealizador do esquema ilícito operado para a movimentação clandestina de ativos financeiros”.

Presidente
A campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ter contado com ajuda financeira de R$ 1,5 milhão da empresa Iesa Óleo & Gás, uma das três acusadas de ligação com o esquema de fraudes em contratos da Petrobras descoberto pela operação da PF. Segundo a Agência Estado, a revelação foi feita pela própria diretoria da empresa. O R$ 1,5 milhão não foi declarado nas prestações de contas da campanha do presidente nem do comitê financeiro eleitoral do PT entregues ao TSE. Isso porque foi contabilizado como doação partidária. Ela foi feita em três pagamentos: R$ 500 mil em 12 de setembro do ano passado, R$ 562 mil em 26 de setembro e R$ 500 mil no dia 22 de novembro.

O secretário de Finanças do PT, Paulo Ferreira, disse, ontem, que não saberia informar o destino exato desse R$ 1,5 milhão, mas que, em regra geral, as doações de pessoas jurídicas à legenda têm dois destinos: Parte é usada para campanhas institucionais do partido e parte é repassada para as campanhas estaduais. Ele explicou que em alguns casos o dinheiro foi para os cofres da campanha de Lula, mas isso representava uma pequena quantia. A Iesa também figura como doadora da campanha do senador Delcídio Amaral (PT) ao governo de Mato Grosso do Sul. Segundo prestação de contas entregue ao TSE, a campanha de Delcídio recebeu R$ 50 mil no dia 29 de setembro. O petista foi derrotado por André Puccinelli (PMDB).
Correio Brasiliense

Nenhum comentário: