26.7.06

Samuel Pinheiro

Embaixador defende investimento bélico
Lançado em junho, o livro “Desafios brasileiros na era dos gigantes” (Contraponto, 455 páginas), do secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, provocou polêmica no meio acadêmico. Número dois na hierarquia do Ministério das Relações Exteriores, o embaixador defende a retomada de investimentos bélicos e a ampliação do poderio militar como forma de impulsionar o desenvolvimento do país. Guimarães vai mais longe e critica a adesão do Brasil ao Tratado de Não-Proliferação de Armas de Destruição em Massa, sob o argumento de que o acordo congela disparidades internacionais, mantendo um fosso tecnológico entre os países.

Nas últimas semanas, o geógrafo e doutor pela Universidade de São Paulo (USP) Demétrio Magnoli dedicou um artigo no GLOBO e uma coluna que assina na “Folha de S.Paulo” para criticar a obra. Magnoli pediu a demissão do secretário-geral por entender que o discurso do embaixador reedita a idéia de “Brasil potência” tão cara à ditadura militar. “O modelo explícito é o Brasil do general Ernesto Geisel. Não é fortuito que ocasionais saudações à democracia apareçam entremeadas com iracundas condenações da ‘democracia formal’”, diz trecho do artigo publicado no GLOBO no dia 2.
Idéias defendidas em livro dividem especialistas

O professor do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB) José Alves Donizeth disse ser descabida a retomada de investimentos militares nos moldes propostos por Guimarães. Para Donizeth, isso seria uma insensatez:
— Quando se analisa os custos de um investimento dessa magnitude, levando-se em conta as carências sociais que o país apresenta, seria uma insensatez, a não ser que o Brasil estivesse imerso num contexto de conflito generalizado, o que não é o caso — afirmou Donizeth.

Já o professor de relações internacionais da UnB Virgílio Arraes concorda com Guimarães, observando que nenhuma potência internacional deixou de ter um efetivo militar compatível com a sua estatura econômica. Para Arraes, no entanto, o Brasil deveria somar esforços com os países do Mercosul para criar uma força conjunta capaz de defender os interesses do bloco.

No livro, Guimarães defende mais investimentos nas Forças Armadas como forma de dotar o Brasil de poderio militar suficiente para dar sustentação ao projeto de desenvolvimento do país. A obra é um arrazoado sobre os problemas brasileiros, com ênfase na desigualdade social e no subdesenvolvimento nacional. “A inserção internacional e a política externa brasileira não podem ter como principais focos objetivos idealistas, desinteressados e transnacionais, tais como a promoção da paz mundial pelo desarmamento unilateral; a cooperação internacional; o progresso espiritual da humanidade e a defesa dos direitos humanos; a construção de uma economia global eficiente; a inserção do Brasil na economia globalizada”, diz um trecho do livro.

Guimarães critica a adesão do Brasil a tratados internacionais como o de não-proliferação de armas de destruição em massa:

— A vulnerabilidade militar decorre da adesão do Brasil, em situação de inferioridade, a acordos de não-proliferação.

O chefe de gabinete de Guimarães, o embaixador Everton Vieira Vargas, que coordena o GT de apoio a brasileiros no Líbano, evitou comentar o teor do livro, mas disse que leu e achou muito bom.
O Globo