22.7.06

Chávez cabo eleitoral

Chávez vira cabo eleitoral e deixa Lula constrangido
Na reunião do Mercosul, presidente fica nervoso e cobre olhos com a mão durante discurso em que venezuelano defendeu sua reeleição

O presidente venezuelano Hugo Chávez assumiu ontem, em um discurso, o papel de cabo eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao repetir várias vezes seguidas: "Ganhará Lula, ganhará Lula!" A reação do presidente brasileiro, diante da enfática manifestação de seu colega venezuelano, foi de um certo nervosismo. Os dois presidentes estavam nesta cidade argentina participando da 30ª Reunião de Cúpula do Mercosul - o venezuelano fazendo sua estréia como membro pleno da comunidade sul-americana.

Minutos antes do apoio ao colega brasileiro, antecipando que iria tocar em um assunto de política interna de outro país, Chávez comentou que a campanha eleitoral já estava em andamento no Brasil: "O presidente Néstor Kirchner fez uma boa gestão durante sua presidência pro-tempore do Mercosul... e tenho certeza que Lula também... se bem que ele está em plena campanha eleitoral... Ih! Já vão dizer que estou me intrometendo em assuntos internos de outro país." Em seguida, sem conter-se, Chávez acrescentou, efusivo: "Ganhará Lula, ganhará Lula!" Enquanto isso, este sorria nervoso, cobrindo os olhos com a mão.

As piadas de Chávez foram abundantes durante seu discurso - no qual, como sempre, não faltaram alusões históricas aos tempos das lutas de independência no século 19 na América do Sul. A certa altura, o presidente venezuelano citou o Império do Brasil.

Percebendo imediatamente a conotação negativa que tem atualmente a palavra "império" na América Latina, o presidente venezuelano emendou: "Quero dizer, era o Império do Brasil.. mas um império bom!"

Mais adiante, em seu discurso, Chávez recomendou ao presidente brasileiro a leitura do livro Quinhentos Anos de Periferia, do próprio vice-chanceler do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães. E, de quebra, alertou, em referência a setores oposicionistas que tanto o governo do Brasil quanto o da Venezuela enfrentam: "É como diz Lula: temos inimigos em nossas próprias terras."
Estadão

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