6.7.06

Dirceu e Morales

Dirceu encontrou Morales dias antes da crise do gás
Parlamentares bolivianos dizem que ex-ministro agiu como emissário de Lula

Agenda de presidente da Bolívia registra reunião com "alto dirigente do PT", mas Planalto nega que petista tenha falado pelo governo


Afastado do governo desde 16 de junho do ano passado e fora da Executiva do PT, o ex-ministro da Casa Civil e deputado federal cassado José Dirceu manteve encontros políticos na Bolívia em abril, onde teria agido na condição de emissário do Palácio do Planalto e tratado do tema da nacionalização do gás e do petróleo bolivianos.
Questionado, o Planalto negou ontem que o ex-ministro estivesse falando em nome do governo Lula.
Dirceu esteve na capital boliviana nos dias 23 e 24 de abril, quando a Bolívia vivia a expectativa do anúncio da nacionalização dos hidrocarbonetos. O decreto seria assinado em seguida, no dia 1º de maio, pelo presidente Evo Morales, e afetou sobretudo as operações da Petrobras na Bolívia, como o aumento da tributação e a nacionalização de duas refinarias da empresa.
A reportagem da Folha apurou que Dirceu manteve ao menos dois compromissos no dia 23, um domingo: com Morales, no Palácio de Governo -a agenda presidencial marca o encontro às 15h30 e o registra como "alto dirigente do PT"-, e uma reunião com seis parlamentares de Podemos (Poder Democrático e Social), o principal partido de oposição, quando disse que havia chegado num vôo particular.
A viagem entre São Paulo e La Paz teria sido feita numa aeronave pertencente à empresa MMX, de Eike Batista. O empresário é proprietário da EBX, siderúrgica instalada parcialmente em Puerto Quijarro, a 15 km de Corumbá (MS), e proibida de operar no país pelo governo Morales, sob acusação de ter começado a ser construída sem licença ambiental. Batista anunciou a saída da EBX da Bolívia dois dias depois da visita de Dirceu, em 25 de abril.
Em 23 de abril, segundo registro do Aeroporto Internacional de El Alto, o único vôo privado vindo do Brasil chegou a La Paz às 12h38 locais, proveniente do aeroporto de Guarulhos. O avião, um jato Cessna Citation 7, prefixo PTOVU, levantou vôo no dia seguinte, às 21h47, e voltou a Guarulhos com uma escala em Santa Cruz de la Sierra.
"Ele não veio tratar de negócios, não veio fazer turismo, não veio por motivos particulares. Ele veio tratar de temas bilaterais entre os governos do Brasil e da Bolívia", afirmou um dos parlamentares de Podemos presentes ao encontro, sob a condição do anonimato. "Não sei se usou estas palavras, mas veio definitivamente em nome do governo do Brasil."
Segundo o relato desse parlamentar da oposição, Dirceu contou que foi recebido no aeroporto por representantes do governo. Dali, foi levado à comunidade de Achocalla, na mesma região do aeroporto, onde participou de cerimônia de boas-vindas da etnia aimará, à qual pertence Morales.
Aos oposicionistas, Dirceu não mencionou o encontro com o presidente boliviano, mas disse que jantaria com membros da cúpula do governo e que um dos temas principais era o projeto de nacionalização. Segundo o parlamentar, Dirceu não mencionou a EBX durante a conversa.
A reportagem ligou para o porta-voz da Presidência boliviana, Alex Contreras, mas ele desligou o telefone antes do fim da pergunta sobre o teor do encontro. Ele não respondeu ao recado deixado em seguida na caixa postal do seu celular e em seu escritório.

"Conversa cortada"
O encontro do ex-ministro petista com a oposição durou duas horas e começou por volta das 17h. O local foi a casa do suplente de senador Andrés Fermín Heredia Guzmán, do departamento (Estado) fronteiriço de Pando, uma região com forte influência do Brasil.
Dirceu falou sobre a relação entre Lula e Morales, as eleições no Brasil e ouviu relatos de preocupação sobre a ingerência do presidente venezuelano, Hugo Chávez, na Bolívia. "Foi uma conversa muito cortada, ele tinha dois celulares que não paravam de tocar."
Mas o assunto principal de Dirceu foi a expectativa em torno da nacionalização dos hidrocarbonetos. Ele avaliou -equivocadamente, hoje se sabe- que não haveria ações duras contra o Brasil por causa das boas relações entre Lula e Morales. "O José Dirceu disse acreditar que, sob nenhuma hipótese, haveria medidas contra os interesses do Brasil", afirma o parlamentar boliviano. "Mas disse também que, se Evo se porta mal, "nós vamos embora". Assim mesmo, em português", recorda o parlamentar.
Em outra ocasião em que falou como representante do governo, Dirceu se comprometeu a arranjar um encontro entre Lula e o líder da oposição, o ex-presidente Jorge "Tuto" Quiroga, o que não ocorreu até agora. Dirceu "deixou claro que era mais próximo do governo, mas que as relações com o PT iam mal", diz o parlamentar.
Folha

2 comentários:

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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