30.7.06

Sobrinho de "anão"

Campeão do esquema já foi réu por desvios
Sobrinho de 'anão do orçamento', Gonçalves foi acusado de fraudar o SUS

Acusado de ser o parlamentar que mais ganhou no esquema dos sanguessugas, o deputado Fernando Gonçalves (PTB-RJ) já carrega no currículo outra história de desvio de verbas públicas. Ao lado do tio, o deputado Fábio Raunheitti (PTB-RJ) - um dos cinco "anões" cassados pela CPI do Orçamento em 1993 -, Gonçalves foi réu em uma ação penal que tramitou no Supremo Tribunal Federal (STF) e na Justiça Federal do Rio, onde os dois eram acusados de desviar R$ 1,3 milhão do Sistema Único de Saúde (SUS). O processo foi extinto, sem julgamento. O desvio ocorreu em 1991 no Hospital Escola São José, mantido pela Sociedade de Ensino Superior de Nova Iguaçu (Sesni), da qual Gonçalves era um dos diretores.

Com 50 anos de idade, Gonçalves só atingiu seu terceiro mandato na Câmara graças à cassação do mandato do ex-presidente do PTB Roberto Jefferson. Nas urnas obteve 39,4 mil votos, insuficientes para se eleger. Tornou-se primeiro suplente. Antes de substituir Jefferson, em setembro de 2005, assumiu a vaga do pedetista Miro Teixeira, enquanto ele ocupou o Ministério das Comunicações - fevereiro de 2003 a janeiro de 2004.

A carreira política de Gonçalves começou em 1991 como deputado estadual. Foi com a ajuda do tio que ingressou na vida pública em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, cidade em que nasceu e onde Raunheitti também fez carreira, amparado nas faculdades que abriu e hoje formam a Universidade de Nova Iguaçu (Unig). Em 1993, Raunheitti foi acusado de ser um dos 18 parlamentares que cobravam propina de empreiteiros para incluir no Orçamento da União recursos para obras. Eles exigiam também de prefeitos "pedágio" para a liberação de verbas.

A primeira acusação contra Gonçalves surgiu em inquérito da Polícia Federal para investigar fraude nas Autorizações de Internação Hospitalar. Em 1991, o Hospital Escola São José cobrou do SUS o referente a 13.459 internações - o que, segundo o perito Isaac Wajsbrot, "extrapolava em 44,33% a sua capacidade cadastrada". Para cobrar, o grupo inventava cirurgias. No tratamento de três supostas vítimas de queimaduras, faturaram o equivalente a 31 atos cirúrgicos, realizados em menos de 24 horas. O rombo foi de R$ 1,362 milhão, em valores atualizados.

O inquérito só virou ação penal em junho de 2002. A demora fez que os crimes prescrevessem para Raunheitti, então com 74 anos. Três anos depois, ele morreu de câncer. Em 2004, quando Gonçalves devolveu a cadeira de deputado a Miro , o processo foi para a Justiça Federal do Rio, onde acabou extinto por conta da prescrição.
Estadão

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