9.7.06

Dirceu, o "Intermediador"

Dirceu, denunciado como chefe de quadrilha, vive como executivo
Ex-ministro atua como intermediador, viajando de jato no Brasil e exterior


De todo-poderoso do governo Lula a altíssimo empresário do setor de... "Intermediação", responde um interlocutor muito próximo do ex-chefe da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu (PT-SP), depois de pensar um pouco sobre a melhor definição para a atividade profissional do amigo. Dirceu classifica de consultoria, mas sua atuação é muito maior do que isso.

O petista é contratado para ajudar grandes empresas, brasileiras e estrangeiras, a resolver grandes problemas, no Brasil e no exterior. Para isso, se vale de relacionamentos que se formaram ou estreitaram quando estava no governo. Estão no rol o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e republicanos ligados ao presidente dos Estados Unidos, George W. Bush.

Com tantos negócios, Dirceu não tem se empenhado como se imaginou na campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Petistas dizem que ele tem medo de atrapalhar. O peso maior, na avaliação de companheiros, é a denúncia do procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, que apontou Dirceu como "chefe da quadrilha" responsável pelo esquema do mensalão.

Nos bastidores, Dirceu manteve conversas com políticos de vários partidos e participou do Encontro Nacional do PT, em abril. Chegou a viajar a Juiz de Fora para conversar com o ex-presidente Itamar Franco. Horas depois, Itamar anunciou que apresentaria sua candidatura na convenção do PMDB.

Mas as ações partidárias diminuíram no último mês. Em 24 de junho, sábado, embora estivesse em Brasília, Dirceu não foi à convenção do PT que lançou a candidatura de Lula. Agora, tem planos de ficar entre 20 e 30 dias nos Estados Unidos.

Argumentando que deixou a vida pública e não deve explicações, Dirceu mantém em sigilo os nomes dos clientes. Os amigos, fiéis, juram que não sabem. A vida é de alto executivo: viagens internacionais, sempre curtas, muitas vezes em jatos particulares. Na sexta-feira, Dirceu chegou dos EUA. Antes esteve no México e em Cuba. A Venezuela é destino freqüente.

Na semana passada, o governo boliviano confirmou que, em abril, Dirceu reuniu-se com o presidente Evo Morales, em La Paz. Na semana seguinte, Morales assinou o decreto de nacionalização do petróleo, causando grandes prejuízos à Petrobrás. Dirceu negou ter agido em nome do governo brasileiro ou que o foco da visita fosse sondar Morales sobre as medidas.

O mais provável é que o ex-ministro tenha tentado encontrar uma solução para as dificuldades que o empresário brasileiro Eike Batista enfrentava na Bolívia, onde tentou instalar uma siderúrgica, mas acabou desistindo. "Ele respeita muito o Eike. Não sei se agiu profissionalmente, mas já o vi defendendo o Eike neste episódio", diz um amigo. Outro interlocutor ouvido pelo Estado avalia que é "um típico caso de contratação de um intermediador".

Dirceu, que é advogado, também recompôs a sociedade com Lilian Ribeiro e juntos montaram a Oliveira e Silva e Ribeiro Advogados, na Vila Clementino, zona sul de São Paulo. Quem cuida da advocacia é Lilian. Dirceu está mais voltado para intermediar negócios. Empresários do setor de petróleo têm procurado o petista. Há informações de que o mexicano Carlos Slim, todo-poderoso da comunicação e um dos homens mais ricos do mundo, tenha recorrido a Dirceu para resolver pendências na Venezuela. Diz um amigo que Dirceu ficará "calmo" até a eleição. Poucas aparições, muitas viagens ao exterior.
Estadão