31.7.06

"A democracia ameaçada"

A democracia ameaçada: o MST, o teológico-político e a liberdade é um livro único na bibliografia brasileira sobre os temas de que trata. Nele confluem a sólida formação filosófica do autor e a acuidade da análise política, fundamentada numa leitura extensa de documentos e textos. Explorando conceitos, Denis Lerrer Rosenfield mostra como o Brasil convive hoje com problemas que poderiam ser equacionados se as idéias em que se ancoram fossem outras. Quando o senso comum de uma sociedade se blinda, ela tem dificuldades em enfrentar o futuro.

Partindo de uma reflexão criteriosa da idéia democrática, baseada simultaneamente numa interlocução com as obras clássicas e na sua confrontação com os fatos e eventos do mundo contemporâneo, Rosenfield traz essa reflexão para o nosso país. A democracia pode ser um ganho provisório se seus fundamentos não forem adequadamente compreendidos. Segundo o autor, é um erro – na verdade de tipo lógico, mas que tem natureza ideológica – afirmar que o socialismo corresponde à idéia de uma sociedade perfeita, à qual se contraporia o capitalismo como sociedade imperfeita. O socialismo, nesta perspectiva, não seria confrontado com sua própria história, a do totalitarismo e a do autoritarismo no século XX, onde despontam a ex-União Soviética, o Camboja, e Cuba, que ainda hoje faz escola na Venezuela de Hugo Chávez e na Bolívia de Evo Morales. Rosenfield demonstra com o maior rigor – e persuasão – como o credo religioso teria tomado o lugar da política.

Baseada nesta perspectiva, a esquerda autoritária, que deita raízes em várias tendências do PT, no MST e na CPT, procura criar as condições daquilo que entende por “transição ao socialismo”. Denis Rosenfield mostra aqui como, nesse intuito, passam a ler a história brasileira sob esta ótica, em textos didáticos que fazem a cabeça das crianças, adolescentes e adultos nos acampamentos e nos assentamentos do MST. Nesse processo de alienação, até mesmo cantos religiosos se tornam novas formas de oração, novos salmos. As consciências são assim moldadas, e preparadas para invasões de terras, ocupações de pedágios, destruição de propriedades, e tantas outras ações violentas que expõem a natureza revolucionária de “falsos” movimentos sociais. “Falsos” porque se trata de organizações políticas, com doutrinas próprias, fortemente hierarquizadas, dotadas de sofisticada logística e de um sistema de informação, que procuram ganhar a simpatia da mídia e dos mais diferentes estratos do Estado brasileiro.

Também não escapa ao autor a paternidade ideológica exercida pela Teologia da Libertação sobre o MST e a CPT, como se essa vertente da religião cristã pudesse se apresentar como a verdadeira interpretação. Aparentes compatibilidades encobrem problemas de fundo. Recorrendo a um artigo do então Cardeal Ratzinger – hoje papa Bento XVI – Rosenfield aponta, com extrema pertinência e acuidade, como essa corrente da Igreja e seus representantes terminaram por ser objeto de uma outra conversão: a conversão ao marxismo, com o conseqüente abandono da doutrina cristã.

Estudo rigoroso da ideologia que comanda o discurso e a ação do MST – organização política que se apresenta como uma “Nova Igreja” empenhada em estabelecer uma “Nova Aliança”, e que tem em Che Guevara um dos seus ídolos – este lúcido, corajoso e bem documentado ensaio de Denis Lerrer Rosenfield merece, pela seriedade da pesquisa e a qualidade da análise, a reflexão de todos os interessados em colaborar para que a sociedade brasileira amadureça sob a égide da ética e da democracia.
Editora Topbook

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