14.7.06

Cala a boca Mercadante

Carcereiros pressionam Mercadante em missa

De volta às ruas ontem com sua agenda voltada para captação de votos criados com a crise da segurança pública em São Paulo, o candidato petista Aloizio Mercadante sofreu o constrangimento de ouvir críticas indiretas de sua omissão como parlamentar e, também, de haver "crime organizado" até no Palácio do Planalto.
As estocadas foram feitas pelo secretário-geral do sindicato da categoria, Antonio Ferreira, durante uma missa em memória aos 15 agentes mortos nos atentados do PCC, celebrada na sede do sindicato, na zona norte de São Paulo.
O senador estava sentado na primeira fila, ao lado dos deputados estaduais Renato Simões e Ítalo Cardoso (ambos do PT).
Sem citar nomes, Ferreira acusou políticos e autoridades das três esferas, sem fazer ressalva aos parlamentares presentes, pelo caos vivido atualmente na segurança pública.
"A maioria das autoridades é a maior responsável. Seja do Judiciário, seja do Legislativo. Porque temos umas leis [ultrapassadas]. Código Penal, Código Processual Penal, Lei de Execução Penal- e lá não fazem nada. Seja do Executivo, que usa apenas construir cadeias, gastando somas e somas de dinheiro", afirmou.
O sindicalista chegou ao ser aplaudido ao dizer que se fossem deputados, secretários ou governadores que estivessem sendo mortos pelo PCC, medidas eficazes contra esses ataques já teriam sido tomadas. "[Eles dizem] Podem esperar. Eu vou fazer uma ação, amanhã eu decreto tal coisa, amanhã eu lhe dou uma arma. E vai se enterrando as pessoas", disse.
A referência as armas também foi uma crítica indireta a Mercadante que apresentou um pedido na Polícia Federal para armar os agentes e vem usando isso para angariar votos. "As armas resolvem? Não. Pode ser [medida] paliativa para salvar a vida de um e de outro. Mas elas não resolvem."
"Aqui, em nome da diretoria, eu conclamo todos a darem as mãos contra o crime organizado. Não é contra aquele coitado que rouba alguma coisa para se alimentar. É contra o crime organizado, que está na cadeia, como aqueles que também estão nos palácios", Afirmou Ferreira, que confirmou mais tarde à Folha estar se referindo aos palácios do Planalto, sede do governo federal, e dos Bandeirantes, governo estadual.
O senador disse compreender as críticas e tentou não se incluir entre os alvos. "Acho que é um desabafo que tem que ter toda a compreensão da sociedade e, mais que isso, a solidariedade concreta e efetiva. E medidas das autoridades para reverter esse quadro", disse.
Ao ser questionado de seu papel como legislador, o petista culpou a Câmara pela não-aprovação de projetos importantes, como uma lei para armar agentes e o agravamento de sanções para uso de celular em presídios. "Esse conjunto de proposições está na Câmara que, em função de uma série de dificuldades, infelizmente não pôde analisar e votar. Acho que deveria ser urgência e prioridade essa aprovação."
Mais uma vez indagado se ele e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fizeram todo o possível para minimizar o problema na segurança, o petista transferiu o endereço da fatura. "Acho tem muita coisa para ser feita, mas a competência de gestão do sistema prisional, da Polícia Civil, da Polícia Militar, e toda responsabilidade da segurança pública, é do Estado. O governo federal só pode agir se for em parceria", disse Mercadante.
Folha

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