19.7.06

Cidadã indignada

Ilustre general Barros Moreira.

Perplexa, tomo conhecimento do vosso insidioso convite a persona non grata não apenas às Forças Armadas, mas à toda Nação. Desejei estar enganada.

Contudo, confirmei através de informação na própria sede carioca.

Talvez não vos pareçam tão graves os itens que compõem o perfil desse marginal que veio marcar, indelével e negativamente (em minha opinião e na de milhões de pessoas briosas) a imagem da Escola Superior de Guerra.

Lamento, profunda e ferozmente, vossa falta de senso mediano, pois uma das mais fortes demonstrações de patriotismo, o bom soldado (eu disse bom soldado!) dá, ao fazer seu juramento, quando vai, voluntariamente, se alistar para servir a Pátria.

A conduta e modo de vida desse abjeto baderneiro, demonstram em tudo, o contrário do serviço à Pátria.

Vossa falta desse senso e de capacidade de enxergar o momento inédito na História do Brasil, há de lhe custar caro, general, muito caro.

Pessoalmente, guardo em meu coração os momentos inigualáveis, onde, como convidada, algumas vezes tive o prazer de contra-dança no clube militar paulista, de mãos dadas com um verdadeiro General, aquele que tinha preferência pelo cheiro de cavalos.

Ainda hoje, general, admiro esse Militar, João Baptista de Oliveira Figueiredo, por todas as iniciativas de boa convivência com nossos compatriotas, gestos de grandeza moral e generosidade impensáveis para aquela e para esta época.

Lamentei sinceramente sua perda na véspera do Natal de 1999.

Ele vaticinou desde as invasões a supermercados no Rio de Janeiro, muito antes de acontecerem, outras tragédias de perfeita previsibilidade. Disse que o povo faminto, insuflado por desordeiros, faria tudo aquilo que, inclusive desordeiro do jaez desse nada ilustre palestrante vosso convidado, fez.
Mais que octogenário e muito lúcido, partiu deixando um legado de honra e sabendo assumir suas responsabilidades diante de uma sociedade que, sem dúvida, não o mereceu.

Primeiro colocado no Colégio Militar de Porto Alegre, chefiou o Serviço de Informações com mão forte, que, no entanto, se estendeu em conciliação para seus compatriotas, nem tão patriotas assim. Mas ele não ignorava e não era um ignorante. Sabia.

Discursou nas Nações Unidas corajosamente criticando política de juros escorchantes, que hoje seriam brincadeira, se comparados ao que o apedeuta-mór pratica no Nosso País.

A frase "Prefiro cheiro de cavalo, do que cheiro de povo” entrou para a história da imprensa melancia como exemplo de apenas uma das grosserias que lhe imputaram e que ele, de fato, jamais negou, pois não esteve no governo para agradar a quem quer que fosse, muito menos a fariseus, pois não era homem de bajulação.

Tinha profundo desprezo pelos bajuladores. Paulo Salim Maluf que o diga!

Na opinião de muitos companheiros da caserna, jamais deveria ter sido indicado ao colégio eleitoral, pois, como sempre assumiu, gostava mesmo de "clarim e de quartel" e talvez por isso mesmo, jamais o Alvorada tornou a ser uma residência digna, ocupada por todos os que o sucederam (e mal, cada vez pior!) porque no seu tempo, aquilo era vero lugar de clarinada!

O lugar onde por vezes se entregava a algum descanso, de torto mesmo, só tinha o nome, porque com ele, tudo era direito.

Temente a Deus, embora jamais em demonstrações rasgadas de sua fé, não se conteve no episódio do passamento de Tancredo e disparou aquilo que novamente a imprensinha chamou de grosseria, mas ele estava, de novo, certo: "never". Nunca mais mesmo! Para alguém que disse na prévia, se alcançasse algumas centenas de votos, NEM DEUS lhe tiraria o cargo, bem que mereceu o tiro. E esse episódio, transformado farisaicamente em "diverticulite" a imprensa ordinária, mesmo tendo por testemunha legítima representante de uma das redes mais oportunistas que já se teve notícia, não esclareceu. Compreensível, não ficaria bem...

É assim entre cobras, general... elas mesmas se picam e se destróem mutuamente. Assista quando puder, se algum tempo lhe sobrar desses compromissos avessos à ordem, "Mississipi em chamas" e saberá do que falo.

Só um grave erro, indesculpável, cometeu aquele inesquecível governante: a Lei da Anistia.

Sabem os que são apaixonados por esse País (e certamente não deve ser vosso caso, o que respeito), que essa lei, não foi de iniciativa do General, visto que desde bem antes de sua indicação, entidades do movimento estudantil e sindical, organizações populares, OAB, ABI e a Igreja Católica, vinham já, fazendo grande alarde em torno dessa oportunidade que hoje abre espaço para visibilidade de parte da escória nacional, tão bem representada no vosso convidado.

Mas o General Figueiredo podia ter vetado e não vetou. Fazer o quê? ninguém é perfeito...

Sua grandeza se mostrou, sem medo, sensível ao pedido publicado na imprensa, de um dos maiores dramaturgos brasileiros, que, antes apoiador do regime militar, com franco acesso à mídia, mudou de lado, tão logo percebeu que seu próprio filho e xará, estava na clandestinidade e por isso preso, pela ingenuidade idêntica a de inúmeras vidas ainda na idade da poesia. Então, engajou-se na luta pela Anistia. E atendeu ao pai desesperado.

A anistia não foi, como queriam os desordeiros, o perdão aos participantes de "atos terroristas", consoante texto legal, mas liberou os militares acusados de assassinatos e torturas que, perto do se faz hoje no País (não que um erro justifique o outro) faria parecer pouco, muito pouco do quanto merecem os traidores da Pátria, desse bando que não sabe a letra do nosso maravilhoso hino, mas cantam a nacional socialista e empunham armas contra a vida!

Eu prefiro, de minha parte, general, conhecer e ensinar à minha descendência, não só a História da minha Pátria, história verdadeira, com erros e acertos de todas as personagens. Não gosto de farsas e acomodações propícias a certa manutenção de aparências. Gosto da verdade, do jeito que ela é. Antes das causas ditas libertárias, digo que só a verdade realmente liberta. Assim, antes da nacional socialista, prefiro todos os hinos e canções cívicos de meu País. Eles dizem mais de mim mesma.

Meu País, formado também de pessoas de bem, leais no caráter, que tem senso do ridículo, que apreciam cultura, civismo, patriotismo, enfim, que detestam e se envergonham de bajuladores, oportunistas, golpistas, vigaristas de quinta, usurpadores e calhordas, ESSE PAÍS, deplora seu convite ao palestrante dessa manhã e tem vergonha de vossa iniciativa.

Sinceros pêsames.

Sandra A Paulino - advogada-OAB/SP 80955
sandrapaulino@aasp.org.br

Um comentário:

Anônimo disse...

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