Depoimento envolve assessor de Humberto Costa
Empresário do esquema também relatou contatos com o primeiro escalão de governos petistas em MS e PI
O empresário Luiz Antônio Vedoin, um dos donos da Planam, afirmou em seu depoimento à Justiça Federal que em julho de 2003 pagou despesas de hospedagem de um assessor direto do ex-ministro da Saúde Humberto Costa e de mais seis pessoas ligadas a ele, numa soma de aproximadamente R$ 22 mil. Vedoin afirmou também que, por intermédio do petista José Aírton Cirilo, integrante do Diretório Nacional do PT e fundador do partido no Ceará, teve contatos com o primeiro escalão dos governos petistas de Mato Grosso do Sul e do Piauí.
Nos encontros, teria sido discutida a venda superfaturada de ambulâncias e unidades odontológicas para prefeituras. O empresário relatou que chegou a ir ao gabinete do governador do Piauí, Wellington Dias, durante a assinatura de projetos com essa finalidade.
O depoimento traz outra revelação: por intermédio de Cirilo, a máfia das ambulâncias teria tentado obter acesso a dotações do próprio Ministério da Saúde, em valor acima de R$ 20 milhões. Até agora, sabia-se que o esquema operava só com emendas parlamentares.
Ainda de acordo com Vedoin, um intermediário de Cirilo informou que, para dar à Planam acesso àqueles recursos extras, a comissão seria maior: 15% sobre o valor liberado. Em uma suposta negociação anterior, intermediários de Cirilo teriam recebido 5% de propina, em troca da liberação de verbas para quitar 130 ambulâncias.
EXPLICAÇÕES
Segundo autoridades que acompanham o caso e tiveram acesso ao depoimento, Vedoin não explicou como sabia que as despesas de R$ 22 mil em hospedagem se referiam ao assessor do ex-ministro da Saúde nem os motivos pelos quais as pagou. Mesmo assim, apresentou como comprovante um recibo da empresa Aeroway, operadora de turismo de Fortaleza.
"Desconheço essa história, confio nos meus assessores diretos. Estive de fato com o José Aírton em quase todas as vezes que fui ao Ceará, porque ele é um representante do PT no Estado, mas nunca discuti liberações de recursos para ambulâncias com ele", diz o ex-ministro.
Os documentos e comprovantes apresentados por Vedoin em seu depoimento, no entanto, ainda precisam ser checados pela Polícia Federal e pela CPI dos Sanguessugas.
PIAUÍ
Pelo depoimento, os recursos extra-orçamentários seriam destinados para Mato Grosso do Sul, Ceará e Piauí. No primeiro Estado, governado por Zeca do PT, o empresário conta ter feito contatos com a Secretaria de Saúde, mas as negociações não teriam prosperado.
No Piauí, segundo Vedoin, o crédito destinado à compra de ambulâncias chegaria a R$ 14 milhões, dos quais R$ 7 milhões caberiam à Planam. O restante seria destinado a duas grandes montadoras de veículos.
Vedoin conta ainda que o dinheiro foi empenhado e liberado neste ano, mas a Planam ficou de fora. A participação foi abortada pela Polícia Federal, que prendeu o próprio Vedoin, além de seu pai, Darci Vedoin, e outros 48 envolvidos.
A secretária de Saúde do Piauí, Tatiana Chaves, informa que o Estado de fato comprou 143 ambulâncias neste ano, em pregão eletrônico. A concorrência englobou R$ 12,5 milhões e a maior parte dos veículos foi contratada junto a duas montadoras. A Planam ganhou o direito de fornecer sete UTIs móveis, no total de R$ 710.000.
Tatiana alega que a negociação não foi concluída, porque o Ministério da Saúde parcelou as liberações de dinheiro e a compra das UTIs havia sido adiada. Diz ainda que todos os projetos foram elaborados pela secretaria, negando qualquer contato com a Planam.
No caso do Ceará, parte do dinheiro seria destinado para prefeituras indicadas por Cirilo. Vedoin disse ainda que teve contatos diretos com o petista e afirma que Cirilo teria usado um flat da Planam em Brasília e se encontrado com ele no Ceará.
Por nota, Cirilo afirmou que as acusações de Vedoin são caluniosas. Negou ter estado em qualquer flat da Planam e disse que, como homem público, recebe várias reivindicações no sentido de beneficiar municípios do Ceará. Garantiu, porém, que nenhum recurso do Ministério da Saúde foi liberado por seu intermédio: "O que confirma o próprio Humberto Costa."
Estadão
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