14.7.06

Entrevista Lembo

'Lula está desequilibrado'
EFEITOS: "Do ponto de vista eleitoral, essa crise prejudica mais o presidente Lula do que Alckmin"

FORÇA NACIONAL: "É bandeira eleitoral. É demagogia. O que faço com 2 mil homens que não conhecem SP?"

OS ATAQUES: "Esse novo surto foi provocado pela prisão de BH. É um líder grande do PCC, um Marcola"

Na tarde de ontem, o governador Cláudio Lembo dedicou algumas horas para pôr num papel os itens que pretende apresentar na reunião de hoje com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. “Estou organizando tudo, para não ficar uma conversa vazia”, explicou.

Em meio à segunda onda de violência atribuída ao crime organizado em São Paulo, Lembo listou seis pedidos que pretende fazer ao governo federal. Quer verbas para reconstruir presídios, aumento do efetivo da Polícia Federal, equipamentos de inteligência, transferência de presos federais que cumprem pena em presídios estaduais, a criação de uma câmara interestadual de caráter permanente para trocar informações e ajuda da Receita Federal para rastrear contas bancárias de integrantes do PCC.

Só não quer a ajuda da Força Nacional de Segurança oferecida pelo governo - que define como “ineficaz” e “bandeira político-eleitoral”. Em entrevista ao Estado logo após definir sua pauta de pedidos, Lembo reagiu às declarações do presidente Lula, ironizou o poder de ajuda oferecido e reclamou do uso eleitoreiro da crise, inclusive por seu partido.

O presidente Lula declarou que “se a situação está sob controle, não poderia estar acontecendo o que acontece hoje em São Paulo”. O que o senhor achou?
Não foi uma declaração feliz. O que nós podemos dizer é que estamos a par de tudo o que está acontecendo em São Paulo, sabemos as causas e as conseqüências - e estamos agindo. Além do mais, em matéria de controle, certamente ele não é o melhor mestre. É só analisar o Brasil. O que está descontrolado é o País. Certamente ele se espelhou no governo dele. Aqui está tudo sob controle dentro do que podemos ter, em uma situação de crise. As emoções de uma campanha fazem até os presidentes perderem o equilíbrio. O presidente Lula perdeu o equilíbrio. Está desequilibrado.

O senhor está entre os que avaliam que ele fez uso eleitoreiro da crise em São Paulo?
Certamente. Acho muito equivocado da parte dele. Esse tema é tão difícil e tão nacional que temos de tratar com grande cuidado, medindo palavras, tendo cooperação recíproca da União com os 27 Estados. Mas também compreendo que as pessoas em campanha por vezes percam os limites das palavras. Falei ontem e hoje longamente com o ministro Thomaz Bastos. Foi uma conversa normal, mas com o registro de todos os fatos. Acho que eu tenho me portado com um nível de cidadania elevado e mereço o mesmo tratamento. Eu disse a ele que é uma pena que o clima tenha se deslocado para o político-partidário e tenha saído do político-administrativo.

Como o ministro reagiu?
Ele ouviu, compreendeu. E vem aqui amanhã (hoje). Diz que vem trazer uma pauta tirada de uma reunião com a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e as Forças Armadas. Acho ótimo! Muito bom! Estou mesmo querendo muito saber quais são as informações que a Abin vai me dar... Que eles me informem, porque estou pronto para cumprir missões específicas. No mais, posso dizer que não é bom soltar palavras ao ar, sem racionalidade.

E por que, afinal de contas, o senhor não aceita a ajuda da Força Nacional de Segurança?
Eu aceito todas as ajudas ! São Paulo merece! E peço o seguinte: primeiro, maior efetivo da Polícia Federal em São Paulo. É fundamental para nossa luta contra o crime ter efetivos de inteligência da PF. Quero que o governo retire os 1.600 presos federais que temos em São Paulo. É um convênio, mas neste momento estamos precisando de vagas. Quero ainda: equipamento de inteligência. E quero que a Receita nos ajude a rastrear as contas dos líderes do PCC presos e das pessoas próximas a eles. Precisamos saber de onde vem e para onde vai o dinheiro do narcotráfico. E, para finalizar: mandem dinheiro para ajudar a reconstruir presídios. Só na reforma do de Araraquara vamos gastar R$ 17 milhões. Agora, o problema dessa Força de Segurança que virou o mote do governo federal e dos meios de comunicação deve ser analisado com a tranqüilidade que o governar exige. É bandeira político-eleitoral.

Por quê?
Essa força é formada por efetivos das Polícias Militares dos 27 Estados. Todos se juntam e deslocam 7.676 homens. A PM de São Paulo tem 87 mil na ativa! Se me mandassem esses 7 mil homens, eu teria, na rua, no máximo 2 mil - porque eles trabalham em turnos. O que faço com essas pessoas num Estado com 40 milhões de habitantes? Iam desaparecer em São Paulo, ainda mais sem conhecer a topografia da cidade. Isso é bandeira de campanha político-eleitoral. Eles sabem que esses surtos de ações do crime aparecem por uns dias e vão diminuindo, como já estão diminuindo. Para convocar a força ia demorar 14 a 20 dias. Na hora em que chegar, já vai estar calmo. Para quê fazer isso? É demagogia. Não quero fazer demagogia, assumi a administração de forma racional. Onde vou acantonar essa tropa? Não tenho quartéis para eles, tenho para minha tropa. Aí falam: em Mato Grosso do Sul deu certo. Em Mato Grosso do Sul foram cento e poucos homens para um presídio. No Espírito Santo também, para um presídio! Eu tenho 144 presídios. Não adianta! Quer tanto mandar? Manda! Mas vai ficar no Pacaembu assistindo a jogo de futebol... Falar dessa força é ausência de racionalidade. E se o governo federal não tem racionalidade, então não pode ser administrador.

O senhor no início dizia que não precisava de ajuda. Agora o senhor mudou de disposição?
Eu sempre disse que queria ajuda. E estou dizendo: eu quero muito! Eu não quero é essa Força Nacional. Quero essas medidas concretas e a criação de uma câmara de inteligência, para que possamos trocar informações. Quando passar mais esse surto de ataques, o problema vai continuar e vai se alastrar por outras partes do território brasileiro.

O que causou os novos ataques?
Fizemos duas operações em Diadema e prendemos o BH, o chefe do tráfico do ABC e da Baixada Santista. Isso desencadeou essa crise toda. Já tinha os tais “salves” antes, mas o surto de violência aconteceu abruptamente depois da prisão do BH. Ele é um grande líder do PCC, é um Marcola. Sabíamos que haveria reação. Mas o que é melhor: deixá-lo solto ou prendê-lo? A sociedade precisa responder.

A cada crise dessas, ficamos sabendo depois que o Estado interceptou grampos e já sabia. O Estado não consegue se precaver?
Numa cidade de 17 milhões de habitantes, segmentos social e economicamente deprimidos, esses movimentos funcionam como um exército oculto que nos pega em todo momento. É difícil precaução total. Precisaríamos de um grande investimento, como o que se fez na Itália com o Plano Marshall. Infelizmente, não pertencemos à União Européia e falta esse grande investimento social.

Isso significa que, mesmo sabendo que haverá ataques, o governo não tem o que fazer?
Significa que o futuro governador e o futuro presidente terão de deixar de pensar só em coisas tópicas e pensar nos grandes centros urbanos. Não se pode mais pensar no brasileiro como cordial. Caímos na real, isso é sonho. O Brasil é complexo como todos os demais países e nos grandes centros urbanos, se houver maior rapidez na concepção de cidadania, haverá também no combate ao crime organizado. Os governadores terão de parar com coisinhas pequenas, com obrinhas de fantasia. Temos que pensar friamente o problema urbano. As cidades brasileiras estão em processo de degeneração.

O senhor queria aceitar ajuda federal e o PSDB não deixou?
Não teve intervenção. Ainda hoje Alckmin esteve comigo e foi muito elegante. Dizer isso é uma ingenuidade. Sou muito independente e demonstrei isso nestes três meses. Se houver necessidade, eu aceito. Estou pedindo, não estou? Mas a Força Nacional não tem a efetividade que a sociedade pensa. Temos o choque da PM, que é ótimo. Não morreu nenhum preso nesta crise. E tenho reuniões diárias. Agora, o Brasil precisa parar de ter preconceitos e entender que sem uma inteligência efetiva não vamos combater a criminalidade. Os órgãos de inteligência foram desmontados. Criou-se o pesadelo do SNI e não se pôs nada no lugar. Foi um grande erro, porque não dispomos das informações de que precisamos. E temos de ter, dentro dos limites de um Estado democrático, algum tipo de inteligência.

Onde o governo Alckmin errou, para a situação chegar a esse ponto?
O governo de Geraldo Alckmin não errou. Construiu uma grande Polícia Militar e mais mais da metade de um grupo de 147 penitenciárias.
Mas quando o Nagashi Furukawa saiu da Secretaria da Administração Penitenciária, o senhor sinalizou que talvez ele tenha conversado demais com os presos.
Eu diria apenas que o atual secretário, Ferreira Pinto, está aplicando a Lei de Execuções Penais. Está fazendo o exercício da administração dentro da lei, mas sem concessões.

Nesta crise houve conversas entre o governo e líderes do PCC?
Fiquei chateado porque disseram da outra vez que fomos negociar com o Marcola. O Marcola foi honesto neste depoimento de agora. Falou a verdade. Disse que uma advogada pediu para vê-lo, achamos que ela deveria ir. Foram junto um delegado, um coronel e uma procuradora. Infelizmente os advogados estão desmoralizados neste momento e nenhum apareceu pedindo pra ir.

Candidatos ao governo do Estado e à Presidência estão pedindo a cabeça do secretário de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho. O senhor vai dar?
Quando eles forem presidentes ou governadores indicarão o secretário que acharem oportuno. Mas agora é a minha vez de indicar e de manter.
As conversas partidárias em meio à crise estão pegando fogo. O senador Jorge Bornhausen (SC), presidente do PFL, até diz que há um elo entre o PT e PCC. O que é isso?
Eu não saberia dizer se há esse elo. Mas identifico em algumas atitudes do PCC a presença de muitos Brunos Maranhões. Vejo semelhanças entre presos que quebram e matam e pessoas capazes de invadir um lugar sagrado como a Câmara. Mas no debate político-partidário acho que essa crise prejudica mais Lula do que Alckmin. São Paulo está agindo com o rigor de sempre, mas o uso político de tudo é do presidente. E o eleitor é reflexivo, ele sabe identificar essas atitudes.

O senhor ainda está contando as horas para deixar o governo?
Contar as horas é muito difícil... Mas agora descobri uma coisa na minha agenda, para a qual nunca dava bola antes. Olha aqui, embaixo da data tem a informação de quantos dias faltam para terminar o ano. Hoje, quinta-feira, faltam 171 dias! Amanhã, sexta, serão 170. Graaaaças a Deus!
Estadão

3 comentários:

Anônimo disse...

Bem, depois daquela idiotice da "elite branca egoista", o Lembo parece que dormiu um pouco e resolveu colocar melhor as coisas. Seria pedir demais o merecido uso de palavras mais duras em relação à hipocrisia do Lulla e do advogado criminalista do PT. A "coincidência" oportuna desses ataques com o lançamento do Alckmin candidato e, agora, com o crescimento dele nas pesquisas é fácil de observar. Acusar, é claro, não se pode sem provas, mas para quem não nasceu ontem, a rima é lé com lé, cré com cré.

Anônimo disse...

best regards, nice info
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Anônimo disse...

Excellent, love it! Camelback ski resort Discount foof beanbag chair Order generic xanax Incorporate business company in a imperial life assurance of canada Domestic domestic travel paramaribo zorg en hoop 1320 nitto tire Fluoxetine side effects shaking discussion board Death+ritalin Hardcore anal insertion Lipitor mechanism of side effects Red rose wheelchair hire Poppy seed allergy built in kitchen furniture Mydoom antivirus Voyeur russia trash bag rain coat underarm hair removal Shelves industrial Concerta mad center