23.11.07

VALERIODUTO TUCANO / TROCA DE GUARDA

Novo ministro já foi citado no mensalão

Segundo o Ministério Público, José Múcio participou de reuniões com Delúbio sobre pagamento de R$ 4 milhões ao PTB

Depoentes mencionam que petebista sabia de "mesada" para a base aliada desde o final de 2003, mas esquema só veio a público em 2005

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O novo ministro das Relações Institucionais do governo Lula, José Múcio (PTB-PE), é citado na denúncia do mensalão entregue ao STF (Supremo Tribunal Federal) como um dos articuladores do acordo fechado entre as cúpulas do PT e PTB que previa o pagamento de R$ 20 milhões dos petistas aos petebistas. Parte desses recursos foi paga por meio do esquema de caixa dois comandado pelo ex-tesoureiro nacional do PT, Delúbio Soares, e pelo publicitário Marcos Valério.
O nome de Múcio aparece numa nota explicativa que reproduz o depoimento do ex-tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri. Ele revelou à Polícia Federal que Múcio manteve reuniões com o ex-presidente nacional da sigla, Roberto Jefferson (RJ), com Delúbio e outros petistas para tratar de dinheiro para cobrir gastos petebistas de 2004.
O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, afirmou, em sua denúncia, que o esquema PT-PTB começou em julho de 2003, quando o deputado José Carlos Martinez (PR) presidia o PTB. Cerca de R$ 1 milhão foi enviado pelo PT até outubro daquele ano, mês em que Martinez morreu num acidente aéreo.
O partido elegeu então Jefferson presidente nacional e José Múcio, líder do partido na Câmara. No segundo trimestre de 2004 ocorreram reuniões entre as cúpulas partidárias.
"Como resultado do acordo estabelecido com o núcleo central da quadrilha entre os meses abril e maio de 2004, (...) Jefferson e Emerson Palmieri, no mês de junho de 2004, receberam na sede nacional do PTB, diretamente de Marcos Valério, a importância de R$ 4 milhões (...)", diz a denúncia.
No rodapé da descrição, Souza lembrou: "Vide, entre outros, depoimento de Emerson Palmieri, especialmente: "Que participaram como representantes do PTB, o presidente do partido, Roberto Jefferson, o líder do PTB na Câmara dos Deputados, José Múcio, e o declarante, e pelo PT, o presidente José Genoino, o tesoureiro Delúbio Soares, Silvio Pereira e Marcelo Sereno".
Palmieri confirmou as reuniões em depoimento que prestou à CPI do Mensalão.
Não citados pelo procurador em sua denúncia, outros depoimentos dados em 2005 por Jefferson, pelo ex-ministro das Comunicações Miro Teixeira e por Palmieri demonstram que Múcio tinha conhecimento do esquema do mensalão desde, pelo menos, o final de 2003 -o caso só viria a público em 2005, após Jefferson denunciá-lo, em entrevista à Folha.
Mesmo sabendo que o PT e integrantes do governo se valiam de um tipo de cooptação política que envolvia pagamentos, Múcio manteve silêncio.
Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, Miro Teixeira afirmou: "Eu confirmo que Roberto Jefferson esteve comigo e fez menção a isso que agora se chama de mensalão. Fez menção, porque me visitou acompanhado do deputado Múcio e do deputado [João] Lyra para me convidar a entrar no PTB. Isso foi no final de 2003 [...] Já ia lá pelo vigésimo minuto a conversa, que durou uns 30 minutos, quando ele disse: "Olha, inclusive, o PTB não entrou nessa história de mesada. Deputado do PTB não recebe mesada". Perguntei: "Que mesada, Roberto?'".
Em depoimento no Congresso, Jefferson contou que ele e Múcio lutavam para evitar que petebistas fossem cooptados pelo Planalto: "Eu e o Múcio vivíamos um dia-a-dia de sofrimento com alguns companheiros que fraquejavam".
Procurado ontem, o novo ministro não foi localizado. Ele disse em 2005 ao Conselho de Ética da Câmara que ouvira apenas "rumores" sobre o mensalão e que não discutiu o assunto com Delúbio.
Folha

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