Reitor acusa Chávez de incitar violência
Após ataque de grupo armado a estudantes de Caracas, grupos pró e anti-Chávez elevam tensão e divergem sobre confronto
Para governo, opositores provocaram os choques; segundo as autoridades universitárias, Presidência arma chavistas radicais
Um dia depois dos confrontos entre estudantes oposicionistas e um grupo armado supostamente chavista, Caracas viveu ontem um dia de tensão, em meio à troca de acusações pela violência no campus da Universidade Central da Venezuela (UCV), a mais importante do país. Líderes universitários acusaram o governo de provocar a violência para justificar uma ocupação dos campi.
O reitor interino da UCV, Eleazar Narváez, exigiu que "o presidente e os grupos governamentais ponham fim à incitação do ódio". Os choques ocorreram depois de uma marcha pacífica de cerca de 80 mil pessoas até a sede do Supremo Tribunal de Justiça, onde os estudantes pediram o adiamento do referendo marcado para 2 de dezembro sobre a reforma constitucional proposta por Chávez. De volta ao campus, os manifestantes se confrontaram com o grupo armado e ao menos oito ficaram feridos, dois a bala.
Dominado pela troca de acusações, o dia de ontem lançou pouca luz sobre os eventos de quarta-feira. Narváez sugeriu que autoridades foram complacentes com os grupos que atacaram os estudantes, pois "apesar da presença de policiais nas entradas da UCV, entre 50 e 60 motociclistas armados conseguiram entrar no campus e durante várias horas seqüestraram professores, estudantes e empregados". "Basta dessa linguagem de promoção da violência entre grupos, [colocando] pobres contra ricos", disse.
Victor Márquez, presidente da Associação de Professores da UCV, afirmou que grupos chavistas radicais, como o Coletivo Alexis Vive, Los Carapaicas e Los Tupamaros, estão sendo encorajados pela Presidência a atacar oposicionistas. Robert Sierra, membro da Comissão Presidencial para o Poder Estudantil, disse, segundo o jornal "El Universal", que setores da população esperam apenas o chamado dos chavistas para "tomar" a UCV. Ele acusou os opositores pela violência na universidade: "Estudantes de oposição, controlem seus companheiros".
Versões díspares
Ricardo Sánchez, vice-secretário do centro acadêmico da UCV, disse que entregará à Procuradoria da República 24 vídeos e 123 fotografias dos atiradores -nenhum foi oficialmente identificado até agora. O grêmio está na liderança dos protestos contra a reforma. O presidente do Instituto de Segurança e Transporte da Prefeitura de Caracas, Antonio Pujols, disse que o governo crê que os estudantes contrários à reforma chavista cercaram a Escola de Trabalho Social da UCV ao regressarem da marcha, o que gerou os confrontos.
Já Gregorio Marrero, fotógrafo da agência Associated Press que presenciou o episódio, afirmou à Folha que é muito difícil saber quem iniciou a violência. "Grupos pró e anti-Chávez começaram a discutir e nesse momento a manifestação já não era nada pacífica. Vi jovens armados de um lado e estudantes com garrafas e pedaços de pau do outro." Ele rejeitou, porém, a versão governista, e disse que os chavistas se refugiaram na Escola de Trabalho Social após o início dos confrontos.
O sociólogo e professor da UCV Trino Márquez, que participou da marcha, confirmou à Folha que o clima já era tenso quando os estudantes voltaram ao campus. "Os chavistas iniciaram os confrontos quando queimaram um ônibus de um grupo de oposição. Eles estavam esperando na entrada da universidade e ameaçaram os estudantes com armas."
Segundo Márquez, os estudantes se defenderam com pedras e os chavistas fugiram para a Escola de Trabalho Social e foram mais tarde resgatados por motociclistas armados. Ontem, estudantes que bloquearam uma avenida de Caracas se chocaram com a polícia.
Folha
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