8.11.07

Planalto tentou esconder a reunião, que não constava da agenda oficial de Lula; petista recebeu os sem-terra pela última vez em 2005


Um encontro às escondidas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a cúpula do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) terminou em clima de mal-estar ontem pela manhã, na residência oficial da Granja do Torto.
O motivo do estresse veio por telefone. Nos minutos finais da reunião, um assessor levou a Lula o recado, transmitido pelo GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência, segundo o qual integrantes do MST tinham acabado de invadir a estrada de ferro da Vale do Rio Doce, no sudeste do Pará (leia texto nesta página).
Segundo relato à Folha de participantes do encontro, Lula fechou a cara e questionou o movimento sobre mais uma invasão na área da companhia, a segunda em menos de um mês. O presidente ouviu uma rápida resposta e, já atrasado para um evento no Palácio do Planalto, aproveitou para encerrar o encontro. Não houve bate-boca.
Logo após a primeira invasão, o governo foi cobrado pela Vale para que tentasse conter as ações do MST, que, em setembro, liderou um plebiscito favorável à reestatização da empresa e, no mês seguinte, invadiu a ferrovia da mineradora.
Na reunião, Lula mais ouviu do que falou. Por uma hora e meia, dirigentes do MST cobraram dele o assentamento de acampados, a atualização dos índices de produtividade, a reestruturação dos assentamentos e uma atenção ao avanço das monoculturas, como cana e soja, e dos transgênicos.
Lula mostrou-se surpreso com as cobranças: "Estou chocado com algumas dessas questões. Pensei que estivessem resolvidas, mas não estão", disse.
Houve espaço para brincadeiras. Ao entrar na sala, Lula interrompeu uma conversa de ministros e sem-terra sobre tendências políticas no governo. "Quem está mais à esquerda no governo é o [Henrique] Meirelles [presidente do BC]", disse Lula, provocando risos. Mais adiante, Lula ouviu críticas ao modelo econômico.
Do governo, participaram os ministros Luiz Dulci (Secretaria Geral), Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) e Dilma Rousseff (Casa Civil) e o presidente do Incra, Rolf Hackbart. Do MST, oito dirigentes nacionais, entre eles João Pedro Stedile, Jaime Amorim e Marina dos Santos.
O MST cobrava uma conversa com Lula desde o ano passado -a última havia sido em maio de 2005, após uma marcha entre Goiânia e Brasília. Em maio, um encontro às escondidas, nos mesmos moldes do ocorrido ontem, havia sido agendado para a residência da ministra Dilma, mas foi adiado em cima da hora por conta da crise da Operação Navalha.
Ontem, o Planalto tentou esconder a reunião. O encontro não constava da agenda oficial de Lula e só foi confirmado quando estava em andamento. Questionado, Cassel disse: "Essas reuniões são muito informais mesmo. São reuniões de conversas, reuniões longas".
Folha

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