23.8.08

Prevendo conflito, governo reforça a segurança em RR

Segundo serviço de inteligência, proximidade de julgamento de demarcação de reserva pelo STF deve acirrar conflito na região

Arrozeiros são acusados de preparar ataque contra índios; eles negam; governo reforça efetivo de policiais e já tem 300 homens na área


A proximidade do julgamento pelo STF (Supremo Tribunal Federal) da demarcação da Raposa/Serra do Sol, previsto para a próxima quarta, levou o governo a reforçar o efetivo policial na região já prevendo o acirramento de ânimos entre índios e não-índios.
Mesmo que o Supremo adie o julgamento, caso ocorra um pedido de vista, órgãos como o Ministério da Justiça, por exemplo, trabalham com a hipótese de confronto.
Segundo informações do serviço de inteligência, teriam chegado na região nos últimos dias jagunços vindos de Boa Vista e de outros Estados do Norte. Eles estariam circulando pela área da terra indígena em cerca de cem motocicletas.
A pasta do ministro Tarso Genro (Justiça) trabalha com a informação de que eles estariam monitorando os índios favoráveis à demarcação contínua, como deseja o governo, e estudando possíveis alvos de ataque. O objetivo, segundo a Folha apurou, seria o de também proteger as fazendas produtoras de arroz cravadas dentro da área indígena contra qualquer ameaça de invasão por parte dos índios.
O governo montou uma sala de situação, que se reuniu anteontem, para acompanhar a situação na área. Ela é formada por membros dos ministérios da Justiça, Defesa, Casa Civil, GSI (Gabinete de Segurança Institucional), além da Funai (Fundação Nacional do Índio), Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e Polícia Federal.
Membros do governo ficaram preocupados com a situação exposta. Pessoas ligadas aos arrozeiros estariam até espalhando bombas caseiras em pontos da reserva já pensando em tática de resistência.
Os arrozeiros negam. Segundo Paulo César Quartiero (DEM), prefeito de Pacaraima e líder dos rizicultores, não haverá resistência ou ataque por parte dos produtores.
Segundo acusam a PF e o governo, o responsável por municiar os arrozeiros é o coronel reformado do Exército Gélio Fregapani, que atuou por mais de dez anos na Abin, foi secretário de segurança pública no Estado, além de um dos fundadores do Cigs (Centro de Instrução de Guerra na Selva).
Em maio, quando houve conflito na região com ataques aos índios, a um posto da PF e até a destruição de pontes, Fregapani foi apontado pela PF como o estrategista da ação.
Ele nega. "Se eu tivesse ensinado táticas de guerrilha, não tinha um policial federal lá. E quem afirmou isso com certeza estaria morto. Sou um dos fundadores do Cigs, esse pessoal não pode competir comigo."
Policiais da Força Nacional de Segurança e da PF estão na região desde abril, quando foi deflagrada a Operação Upatakon 3, para retirar da reserva os não-índios. Com o reforço recebido nos últimos dias, há hoje um efetivo de 300 homens na região, mas o governo poderá mobilizar mais policiais, além de um helicóptero de apoio.
Folha

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