8.8.08

Nicanor e Lugo criticam o Brasil

Atual e futuro presidente do Paraguai fazem alusões à hegemonia brasileira

Para ex-bispo, Venezuela pode equilibrar geopolítica regional; colorado, que sai dia 15, pede a militares que reajam a "imperialismo"

Em eventos diferentes, o atual e o futuro presidente do Paraguai, respectivamente Nicanor Duarte Frutos e Fernando Lugo, fizeram referências, ainda que indiretas, à hegemonia brasileira na região. Ambos também aludiram ao crescente peso da Venezuela na política sul-americana, mas desta vez manifestando discordância de posições.
Em encontro com o alto escalão militar paraguaio, Nicanor exortou as Forças Armadas a reagir à ingerência estrangeira com "pretensões imperialistas", em alusão sobretudo ao Brasil, mas também à Venezuela. O paraguaio, que nunca foi próximo de Chávez, o acusou, em abril, de enviar "agitadores" para "turvar" as eleições.
Já o presidente eleito, Fernando Lugo, que assume no próximo dia 15, disse, em visita a meios de comunicação, que a Venezuela pode equilibrar a hegemonia regional representada por Brasil e Argentina. Ele defendeu "um novo desenho da política externa" paraguaia.
Ex-bispo que quebrou uma hegemonia de 61 anos do Partido Colorado ao eleger-se à frente de uma ampla coalizão política, Lugo disse não ter medo do "eixo do mal", pois não identifica o país à autoridade que o dirige, numa clara defesa da aproximação com a Venezuela. Segundo ele, "Chávez passa", mas não o potencial do país.
Lugo reivindica do Brasil a revisão do Tratado de Itaipu, sua principal bandeira de campanha, e busca na Venezuela uma alternativa energética. Em junho, mesmo ainda sem ter assumido, ele assinou com Chávez um pré-acordo de fornecimento de petróleo.
Ontem, a Venezuela enviou 70 milhões de litros de óleo diesel ao Paraguai em um gesto de apoio. O país enfrenta escassez do combustível, e, há dois meses, uma crise no seu fornecimento afetou a colheita e gerou prejuízos na produção agrícola, base da economia.
As declarações do futuro presidente do Paraguai podem significar um incentivo à adesão da Venezuela ao Mercosul, que ainda depende do aval dos Senados brasileiro e paraguaio para ser ratificada. O Paraguai, com o Uruguai, tem reiteradamente manifestado contrariedade nos últimos anos com o peso que têm Brasil e Argentina no bloco regional.
Folha

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