9.8.08

Jorge Quiroga, líder da oposição boliviana: "A Bolívia é um satélite puro, absoluto e completo do modelo chavista"

J. Marirrodriga e M. Azcui
Em La Paz para El Pais


Seja qual for o resultado do referendo revogatório de amanhã, o presidente boliviano não poderá aprovar sua nova Constituição se antes não se livrar da influência do venezuelano Hugo Chávez. É o que afirma Jorge "Tuto" Quiroga (nascido em Cochabamba em 1960), ex-presidente da Bolívia (2001-2002) e líder do partido de oposição Podemos. Para Quiroga, é imprescindível que o governo e os poderes autonomistas se sentem para dialogar. Ele considera que qualquer medida democrática é boa para evitar que se aprove a Constituição defendida por Morales.

EFE
O líder da oposição, Jorge Quiroga: "O poder do petróleo permite que Chávez controle os movimentos sociais - tais como os mapuches no Chile, os piqueteiros na Argentina, o Movimento Sem Terra no Brasil ou grupos radicais do México"
El País - O referendo revogatório vai solucionar alguma coisa ou vai acrescentar mais elementos de conflito na Bolívia?
Jorge Quiroga -
O referendo é uma das fases de uma longa batalha contra um projeto totalitário que, sob a influência de Hugo Chávez e seguindo sua receita, se quer impor com uma Constituição centralizadora, que aniquila a propriedade privada, destrói a liberdade de expressão, decompõe e destrói todas as instituições bolivianas para se perpetuar no poder.

EP - Por que seu partido, Podemos, apoiou a convocação desse referendo no meio do polêmico processo de elaboração de uma nova Constituição?
Quiroga -
Fizemos isso por uma decisão política. Para que não se imponha uma Constituição que poderia mandar meu país para o fundo de um poço nos próximos 20 ou 25 anos. Ao situar o revogatório no debate político, as possibilidades de impor o texto constitucional diminuíram consideravelmente. Não digo que seja impossível, mas é muito difícil, aconteça o que acontecer nos resultados do referendo.

EP - Mas não pode acontecer o contrário, acelerar a aprovação do texto constitucional se Morales se sentir respaldado nas urnas?
Quiroga -
É absurdo que o governo pense em tentar impor sua Constituição. É claro que depois de domingo vamos ter de nos sentar, o governo, nós que lutamos pelas autonomias encabeçados pelos prefeitos que personalizam essa aspiração e a oposição representada no Congresso para buscar um pacto constitucional, autonômico e com inclusão social. Isso se o governo reagir com moderação e deixar de escutar e de se submeter a Chávez.

EP - A Organização de Estados Americanos (OEA) expressou sua preocupação diante da crescente violência na Bolívia.
Quiroga -
É o clima em que a Bolívia está vivendo nos últimos dois anos, com mais de 40 mortos. Quando o governo usa o "Estado de capricho" e violenta o Estado de direito, é muito difícil exigir o respeito e o cumprimento das leis. Entendo que a OEA tem de fazer declarações e emitir um comunicado com um "a situação nos preocupa". A OEA é um clube de amigos de governos; sejamos francos: é um "cuide de mim hoje que cuidarei de você amanhã".

EP - Quanto poder e influência atribuem ao presidente da Venezuela na Bolívia?
Quiroga -
A Bolívia é um satélite puro, absoluto e completo do modelo chavista, e é triste dizer isso. Como é o governo da Nicarágua, como o Equador, vários países do Caribe e como vai ser o governo do Paraguai, lamentavelmente. São países "petrocomprados" e dominados. Depois há os países "petro-hipotecados" como a Argentina, e os "petronecessitados" do Caribe que precisam de petróleo e que o senhor Chávez entrega pela metade do preço ou dá de presente 5 mil barris aqui, 2 mil ali. E ainda tem outros, que são os "petrointimidados".

EP - Quais são?
Quiroga -
O poder do petróleo permite que Chávez controle os movimentos sociais - tais como os mapuches no Chile, os piqueteiros na Argentina, o Movimento Sem Terra no Brasil ou grupos radicais do México -para intimidar os governos para que façam vista grossa diante de tudo o que realiza, incluindo seu flagrante "aiatolismo eleitoral" de alguns dias atrás. Os aiatolás do Irã dizem que há democracia mas só podem ser candidatos os que tiverem sua bênção e aprovação. Estou esperando, procurando e escutando para ver o que dizem os governos do Brasil, México ou Argentina, e percebo um silêncio estrondoso.

EP - E a quê o senhor acredita que se deve esse silêncio?
Quiroga -
Como brigar com Chávez? O barril de petróleo está a US$ 120 e ele dá de presente. Manipula a OEA, controla o secretário-geral, é muito complicado. O poder de Chávez é tão grande que esperar uma reação da "comunidade internacional" é como pedir pêras ao carvalho.

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