5.8.08

Colômbia avalia ação externa contra as Farc

Preocupado com a mobilização das Farc no exterior, o serviço de inteligência da Colômbia sugeriu ao governo de Álvaro Uribe a criação de um grupo secreto para agir fora das fronteiras do país. O plano, que consta de um informe reservado obtido com exclusividade pela Folha, prevê contra-ofensiva regional de Uribe nos frontes político, jurídico, midiático e de inteligência.
Essa espécie de embrião de uma "CIA colombiana" teria como alvo prioritário o Foro de São Paulo, encontro bianual de partidos políticos e organizações de esquerda da América Latina. O Foro foi constituído em 1990 na capital paulista por iniciativa do PT.
Para a inteligência, apesar de enfraquecidas internamente, as Farc se valem de uma "conjuntura favorável aos governos de esquerda". Do Foro, segundo a inteligência, emanam as linhas mestras de ação regional dos setores pró-Farc, que estariam "pressionando organizações sociais e integrantes de governos de esquerda" para a criação de um "movimento" para isolar a Colômbia.
Para reagir a esse suposto movimento, o "governo colombiano deve promover uma estratégia integral que articule os setores: político, jurídico, diplomático, acadêmico, de inteligência e contra-inteligência".
"O Ministério das Relações Exteriores, o Ministério da Defesa e o DAS [Departamento Administrativo de Segurança] deveriam avaliar a criação de um comitê técnico permanente de análise e ação externa", diz o informe. O objetivo seria "canalizar de forma oportuna cursos de ação viáveis e concretos" por meio de "ferramentas" que assegurem ação integrada do "fator diplomático e de segurança e defesa nacional".
O documento reservado, produzido pelo DAS, a inteligência colombiana, está datado de 7 de abril de 2008. Na análise, as diretrizes contra Uribe foram traçadas na declaração aprovada pelo Grupo de Trabalho do Foro, em 24 de março.
"A declaração, com matiz de condenação, alenta o aparato internacional das Farc. Promover uma série de denúncias contra a Colômbia, baseando-se na tese de agressão à soberania equatoriana, será a carta de navegação de núcleos no México, Equador, Nicarágua e Venezuela", diz o documento, em referência ao ataque colombiano no Equador que matou o guerrilheiro Raúl Reyes em março.
Segundo a inteligência colombiana, o interesse das Farc "é estabelecer um cerco político que eventualmente gere medidas militares por parte dos países do hemisfério".

Renúncia
Fontes do governo disseram que a iniciativa, já acolhida por Uribe, estaria por trás da renúncia do chanceler Fernando Araújo, no mês passado.
Araújo, ex-refém das Farc, considerou a idéia uma violação do direito internacional e um risco para as relações diplomáticas da Colômbia com os países vizinhos. Foi substituído por Jaime Bermúdez, homem de confiança de Uribe. Entre as sugestões da inteligência, está a de que representantes do governo no exterior evitem comentar sobre atividades contra as Farc para "não favorecê-las", alimentando o debate.
Folha

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