Editorial Jornal do Brasil
O senador Renan Calheiros continua presidente do Senado. Quarenta salvaram seu mandato, repudiado por 35. Outros seis (covardes) abstiveram-se numa votação secreta, em sessão secreta. Foi uma vitória de Pirro. Ninguém ganhou. Perdeu a sociedade que ainda mantinha a esperança de que os senadores decretassem o retorno glorioso da ética ao cenário político. Da Casa Alta restaram as cinzas.
O deputado Fernando Gaberia previa, antes do início da sessão que acompanhou com outros 12 integrantes da Câmara, graças a uma liminar do Supremo Tribunal Federal (depois referendada pela maioria dos ministros), que alguém tombaria morto no plenário azul. Se não Renan, o próprio Senado. O país chora, neste day after, a morte do Senado da República. Falecimento prematuro, muito antes da discussão da homicida proposta chancelada pelo Congresso do PT sobre o fim do bicameralismo e o estabelecimento do unicameralismo no país, com apenas a Câmara a representar o Poder Legislativo.
A sisudez dos senadores depois que as portas do plenário voltaram a abrir comprovava a tese. Apenas Almeida Lima, candente defensor do presidente da Casa, manifestou alguma alegria. Não convenceu ao assegurar que tudo volta ao que era antes no quartel de Abrantes. A casamata está bombardeada. "A margem apertada de votos e a covardia das abstenções demonstram que será impossível ao senador Renan governar esta Casa", analisou o senador democrata Demóstenes Torres, protagonista de um intenso bate-boca com o ator principal do drama durante a sessão secreta de julgamento.
O calvário de Renan, o do Senado e o do país não terminou. Outros dois processos por quebra de decoro parlamentar contra o presidente do Congresso aguardam na fila. Um terceiro está pronto para dar entrada na Mesa Diretora.
Um o acusa de favorecimento num negócio com a cervejaria Schincariol. Outro o envolve com a compra de emissora de rádio em nome de laranjas. O outro traz acusação de apropriação indébita de dinheiro público e de ajuda ao banco BMG para garantir o acesso da instituição aos empréstimos consignados. Todos tão ou mais graves que o primeiro, da qual escapou com a ajuda dos pusilânimes votos de abstenção, no qual era suspeito de pagar despesas pessoais com dinheiro de um lobista de empreiteira.
Espera-se uma temporada de agonia ainda maior do que estes últimos 110 dias. Cobra-se dos senadores que ponham por terra o abominável julgamento em sessão secreta. Impõe-se que mudem a Constituição para tornar o voto aberto, transparente. Homens públicos não podem votar escondidos. São eleitos para dar satisfação à sociedade enquanto durar o mandato que receberam nas urnas.
O governo Lula, por meio de dois senadores de projeção no PT - Aloízio Mercadante e Ideli Salvatti - ajudou Renan a se safar. Perdeu também esta batalha entre os brasileiros de bem. Corre o risco de ver seu esforço para aprovar projetos importantes, como a prorrogação da CPMF, ruir diante do comando de um parlamentar que divide o Senado e foi enterrado politicamente pela opinião pública de há muito.
Os mal explicados negócios de Renan Calheiros continuarão a ser exumados. Ao absolvê-lo ontem, seus 40 companheiros assinaram o atestado de óbito do Senado. A Casa perdeu o instinto de sobrevivência.
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