“Nós acreditamos que sem educação nenhum país do mundo vai para frente.” Quase três anos depois, a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 29 de novembro de 2004, contrasta com a realidade. O relatório Panorama sobre a educação, divulgado ontem pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), coloca o Brasil como a nação que menos investe em educação, entre as 36 analisadas no documento — 30 países-membros da OCDE e seis “economias parceiras”.
As diferenças de investimentos são gritantes: enquanto o governo dos Estados Unidos gasta anualmente cerca de US$ 12 mil (ou R$ 22 mil) com cada estudante, o Brasil só contribui com pouco mais de US$ 1,3 mil (em torno de R$ 2,4 mil), ficando na 36ª e última posição, atrás de Eslovênia (US$ 6.824), Chile (US$ 2.864) e Estônia (US$ 3.402).
O nível de atenção à educação superior merece algum destaque no relatório. De acordo com o documento, o Brasil investe anualmente US$ 9.019 com seus universitários — a média dos países da União Européia que integram a OCDE é de US$ 10.191. Mas o gasto com a educação de segundo grau, base para a vida acadêmica, chega a ser pífio: apenas US$ 801, quase três vezes menor que os investimentos do Chile e nove vezes menor que a média da OCDE.
As verbas para pesquisa e desenvolvimento são ainda mais vergonhosas e se resumem a US$ 116 (cerca de R$ 217) por estudante universitário. Procurado pelo Correio, o Ministério da Educação não comentou o relatório. O país reserva somente 3,9% de seu Produto Interno Bruto (PIB) ao setor, ficando apenas à frente da Rússia (3,6%) e da Grécia (3,4%).
Plano
Com a promessa de “entrar para a história”, o presidente Lula lançou, no último dia 24 de abril, o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), um projeto nos moldes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Apesar de não falar em cifras, ele disse que o PDE vai garantir um “aumento significativo de verba na educação”. “Mas os problemas do nosso ensino público não se restringem à capacidade de investimento. Existe muita coisa que o dinheiro em si não resolve”, afirmou, na época.
O Panorama sobre a educação traz alguns dados curiosos sobre o Brasil. Pelo menos 38,1% dos graduados brasileiros se formaram nas áreas de ciências sociais e direito; 31,7% em ciências humanas, arte e educação e apenas 12,1% em saúde. O Brasil também está entre os países com o maior número de alunos por classe no ensino médio: mais de 30. O documento da OCDE revela ainda que a expansão da educação superior pode impulsionar as oportunidades de trabalho mesmo para aquelas pessoas que não têm curso universitário. A não conclusão do segundo grau impõe penalidades a todos os países analisados. Em média, as taxas de desemprego entre pessoas que não completaram o ensino secundário são sete pontos percentuais mais altas que entre os acadêmicos.
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