1.9.07

Lula, presidente vitalício

Lula castrou a oposição neste país. Por isso - com raras e honrosíssimas exceções - a oposição fala fino e não tem a coragem de assumir seu papel. Seus instrumentos foram a enxurrada de medidas provisórias, que apequenaram o Legislativo numa figura decorativa, a cooptação de parlamentares em todos os partidos e a tática escusa do mensalão - de que ele “não sabia”, mas que mesmo assim funcionou. Transformou o Brasil num deserto de estadistas e de idéias, num vazio político só preenchido pela sua descomunal ambição de erigir-se em presidente vitalício, emendando a Constituição para se candidatar novamente quantas vezes quiser. Lula acabou com a política, pois, onde não existe oposição, a política já era.

Não se trata de satanizar a pessoa do presidente. Nada de ódio, apenas muita indignação, muita decepção e bastante cobrança. Afinal, Lula faz o seu jogo, o jogo do carisma sem liderança. Nós, que estamos em desacordo, temos de fazer o nosso jogo: menos “carisma” e mais liderança com responsabilidade. Numa partida de futebol, um time não sataniza outro. Apenas tenta impor limites ao outro time, com tanto mais garra e agressividade quando o outro time joga com deslealdade e quebra todas as regras. E também não queremos ser satanizados. Como diz José Pastore, censurando o último trem da alegria: chega desse papo de que mérito, eficácia e competência são conceitos neoliberais, contrários à “justiça social”.

Cônscio de que a oposição atualmente se refugiou na imprensa, Lula dirige sua ofensiva contra a imprensa livre, cooptando e comprando jornalistas. Um deles, que gozava de excelente situação financeira na televisão, foi transformado em ministro. Indagado sobre como faria para viver com R$ 8 mil, em contraste com sua remuneração anterior na TV, num rasgo de frio cinismo respondeu: “Acho que, agora, vou ter que apelar para minha poupança...” Sem comentários.

O presidente carismático não entrega o poder, não admite a sucessão, não se sujeita à alternância no governo, como é próprio à democracia. Pois ele é “o” homem, o salvador da pátria, o único apto a levar a cabo a obra messiânica de redenção nacional. Fidel Castro e Hugo Chávez não descem da Presidência. Lula, que não se julga menos do que estes líderes cucarachas, também manobra para ficar na governança ad perpetuum. Lula é “imexível”, como diria o ex-ministro Rogério Magri (num neologismo impecável, ao contrário do que acham os pedantes). Lula, o carismático, está acima do bem e do mal, à prova de qualquer denúncia, de qualquer sangramento e da alternância no poder.

Caminhando outro dia pelo meu bairro, como faço todas as manhãs, ao chegar a uma praça cheia de passarinhos cantando, um deles me contou alguns segredos do plano de Lula para proclamar seu dia do “fico”. A tal reforma política a ser feita pela Constituinte exclusiva que espera convocar vai se resumir em mudar a Constituição para ele ser reeleito, a partir de 2008, por mais seis anos.

Vem aí uma gigantesca reestruturação econômica para afagar o povão sem prejuízo dos banqueiros, e com apoio de grandes investidores europeus. Quem tem dinheiro na poupança e nos fundos que se prepare para o confisco.

Os fundos do FGTS vão entrar na dança para financiar obras de infra-estrutura, mediante medida provisória. Com quem ficará o risco do investimento? Claro que ficará com o trabalhador. Afinal, para que serve o sistema capitalista de risco, senão para construir o socialismo do século 21?

Contou mais o passarinho: carros populares serão financiados pela bagatela de R$ 5 mil, graças ao acordo fechado por Lula com uma companhia chinesa. Impostos para aparelhos de consumo popular seriam reduzidos e aumentada a carga tributária para automóveis de luxo. Para sufocar a violência está prevista a criação de “milícias de bairros”, na trilha de Hugo Chávez e dos “comissariados do povo” na antiga URSS.

Contou o passarinho que Lula está riquinho. Sua fortuna pessoal foi estimada pela Revista Forbes em 2 bilhões de dólares (sic). Mas não se pense que ele vai gastar sua fortuna na compra de iates e de Picassos para seu deleite exclusivo. O que ele pensa fazer é comprar televisões a cabo para formar uma rede destinada a divulgar as comunicações do governo petista. O presidente dedica-se a manter sob seu controle várias redes de televisão, e segurar no freio muitos jornalistas aos quais paga “por fora” (sem que precisem mexer na própria poupança...). Toda a sua preocupação se concentra em estabelecer as condições para um governo lulista de prazo indeterminado, a perder de vista.

Palavra de passarinho (sem parentesco com tucanos nem com os falcões da direita).

O passarinho baseou-se no Dossiê Americano sobre Lula (da internet).

Verdade ou mentira?

Lula não é de tomar medidas ousadas. Está mais para conservador e não gosta de assumir riscos, como seriam o confisco maciço de poupanças, criação de milícias, etc. Sobram certas iniciativas de impacto, como extensão da rede de propaganda pela TV, algum investimento em infra-estrutura e em moradias populares (o que é bom e importante), talvez medidas provisórias manipulando recursos do FGTS. Pode-se ter como certo o aperfeiçoamento do Bolsa-Família e, mais ainda, a cooptação da imprensa, o suborno de jornalistas, etc. Descontadas as iniciativas mais audaciosas e virulentas, que ponham em risco a estabilidade macroeconômica, tudo pode ser verdade.

Acresce que a turbulência do mercado financeiro veio estreitar a margem de manobra do governo lulista. Lula e seus comparsas já puseram de molho suas bem tratadas barbas antes que peguem fogo. O panorama mundial não está para grandes devaneios populistas (ou elitistas), o que pode cortar a megalomania lulo-petista.

* Gilberto de Mello Kujawski, escritor e jornalista, é membro do Instituto Brasileiro de Filosofia E-mail: gmkuj@terra.com.br

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