Governo recua e desiste de premiar alunos do Bolsa Família
Pesquisa do governo mostra freqüência alta, mas baixo aproveitamento; secretária diz que professores poderiam ser pressionados a aprovar estudantes
Incentivada por R$ 18 pagos por mês aos pais, a maior freqüência às aulas por pelo menos 10 milhões de alunos não garantiu bom aproveitamento escolar aos beneficiários do Bolsa Família, aponta pesquisa contratada pelo Ministério do Desenvolvimento Social. O dado, ainda preliminar, revela limites do principal programa social do governo Lula.
Como primeira reação ao problema, ganhou força no governo proposta de premiar os alunos do Bolsa Família que concluíssem o ensino fundamental e o ensino médio. Mas a proposta foi para o limbo. "Pisamos no freio", informou Rosani Cunha, secretária do ministério responsável pela bolsa.
O incentivo financeiro aos alunos aprovados -de R$ 400 para os que concluíssem a oitava série e de R$ 800 para os que terminassem o ensino médio- custaria R$ 300 milhões ao ano, de acordo com a última versão da proposta. Mas o obstáculo não foi financeiro, conta Rosani: "Havia o risco de os professores serem pressionados a aprovar os alunos".
Em Samambaia, a 50 quilômetros do Plano Piloto, em Brasília, mais da metade dos alunos do Centro de Ensino 427 são beneficiários do Bolsa Família. Os demais não têm renda muito diferente do teto de acesso ao programa (R$ 120 mensais por pessoa). Os boletins comprovam a diferença no rendimento escolar: 73% dos alunos do Bolsa Família apresentaram rendimento insatisfatório, contra 14% de mau aproveitamento entre os demais alunos da oitava série.
Foi a maior discrepância registrada na escola, com bons índices de aproveitamento nas avaliações oficiais.
"É muito clara a questão dos alunos que vêm para a escola pressionados pela família, mas não estão comprometidos com os estudos", disse João Marcos Marçal, vice-diretor da escola.
O Distrito Federal está na área do país em que a pesquisa contratada pelo Desenvolvimento Social detectou aproveitamento escolar inferior dos alunos do Bolsa Família, comparados a alunos pobres não atendidos pelo programa. Encontraram-se diferenças significativas de rendimento sobretudo entre os meninos e nas regiões Norte e Centro-Oeste.
A pesquisa detectou impacto mais significativo do Bolsa Família no aumento da freqüência às aulas nas regiões Nordeste, Sul e Sudeste e na queda da evasão escolar no Nordeste, Norte e Centro-Oeste -resultados mais esperados diante da exigência do programa, de freqüência a 85% das aulas. A pesquisa foi feita em 269 municípios de todos os Estados, exceto Acre, Roraima e Tocantins.
A secretária de educação básica do MEC, Pilar Silva, sai em defesa do programa: "O fato de essas crianças estarem na escola já é um ganho, mas não basta: elas têm de aprender".
Folha
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