Torresmo cabeludíssimo
Eliane Cantanhêde
BRASÍLIA - Não há nenhuma surpresa na descoberta de que o Banco do Brasil é possivelmente uma das fontes, senão a principal, do esquema Marcos Valério. Essa era pedra cantada depois que o PT e o governo tomaram de assalto praticamente todos os cargos de direção da instituição, uma das mais sérias do país.
Um desses cargos ficou com quem? Com o catarinense Henrique Pizzolato, que virou diretor de Marketing do BB, foi responsável por despejar verbas num show em benefício do PT e acabou levando para casa um pacote com R$ 356 mil em espécie. Depois, quando o escândalo ficou público, disse candidamente que levou a dinheirama sem saber o que era. Agora, a acusada de abastecer o valerioduto é justamente a sua diretoria .
Em entrevista publicada pela Folha em 6/8/2004, esse Pizzolato me disse coisas interessantíssimas. Uma delas é que ele não seria demitido por causa do show e estava acostumado com a perseguição ao governo e ao PT: "Já comemos torresmo com muito mais cabelo", riu.
Filiado ao PT desde a fundação, ele também falou sobre seu espírito franciscano: "Se tiver um céu, vou ficar muito pouco no limbo, pelo que já passei, pelo que já fiz e por todas as orações que fiz para são Francisco".
Pizzolato trabalhou na campanha de Lula em 2002 com o tesoureiro Delúbio Soares e andava com um cartão de visitas em que se anunciava "do comitê financeiro". Mas, na entrevista, me disse que não precisava de intermediários para virar diretor do BB: "Eu conheço o Delúbio, sim, mas conheço o Lula também".
Funcionário de carreira do BB, petista e sindicalista, Pizzolato foi da Previ (o bilionário fundo de pensões do BB), depois trabalhou com Delúbio na campanha e, da campanha, voltou à direção do BB em Brasília, na onda da "petização" do banco.
Resultado: o BB está metido até o pescoço no valerioduto, o que significa dizer que o dinheiro público não voa apenas em malas, cuecas e pacotes. Voa bem mais alto.
@ - elianec@uol.com.br
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