18.11.05

CPI: prefeitura tinha tabela de propina

A CPI dos Bingos no Senado divulgou ontem uma tabela da propinas que seriam cobradas de empresas de ônibus pela Prefeitura de Santo André na segunda gestão do prefeito Celso Daniel (PT), assassinado em 2002. O documento foi elaborado pelo Ministério Público com base em depoimentos de três empresários que confessaram terem pagado a caixinha de 1997 a 2001. Segundo os promotores, o esquema arrecadava R$ 100 mil por mês e pode ter relação com a morte do prefeito.

A propina era calculada com base no valor da tarifa em vigor a cada ano. Segundo o documento, em 2001, último ano de funcionamento do esquema, cada ônibus em circulação custava R$ 550 por mês às empresas. Naquele período, a Expresso Nova Santo André (com frota de 98 veículos) e a Viação São José (com 76) teriam sido extorquidas mensalmente em R$ 53,9 mil e R$ 41,8 mil, respectivamente.

O Ministério Público aponta como responsáveis pelo esquema o empresário Ronan Maria Pinto, o ex-secretário de Serviços Municipais Klinger de Oliveira Souza e Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, também acusado de ser mandante do assassinato de Celso Daniel. Os três depuseram ontem à CPI dos Bingos.

O depoimento dos acusados foi acompanhado pelo promotor que investiga o caso, Roberto Wider Filho. Ele disse que parte do dinheiro arrecadado foi para campanhas do PT. O resto era dividido entre os participantes do esquema. Segundo Wider, Ronan arrecadava o dinheiro. Wider procura provas que relacionem o esquema à morte de Daniel.

— Sabemos que ele foi morto por um desarranjo no esquema de corrupção — disse Wider.

O promotor disse ter colhido testemunhos de ex-funcionários de Ronan que teriam ajudado a contar o dinheiro. As principais provas são quatro depósitos no valor de R$ 41,8 mil feitos pelo empresário de ônibus Luiz Alberto Ângelo Gabrilli na conta de Sombra.

Sombra teve dificuldades para explicar ontem na CPI os depósitos em sua conta feitos por Gabrilli. O dinheiro entrou na conta de Sombra em 1997, na segunda gestão de Celso Daniel. Gabrilli diz que pagou propina por benefícios recebidos por sua empresa, a Guarará. Sombra disse ontem que os depósitos eram referentes a serviços de segurança feitos às empresas de Ronan, seu ex-sócio. Depois, afirmou que ficou surpreso em saber dos depósitos de Gabrilli e negou ter relações com ele.
O Globo