10.11.05

SORAYA GARCIA - DISPENSADA

Dispensada de depor, ex-assessora diz que repetiria acusações contra Dirceu

LEONARDO SOUZA
da Folha de S.Paulo

Informada na última hora que não iria mais depor na CPI dos Correios, Soraya Garcia, ex-assessora financeira do PT em Londrina, disse que achou estranho o cancelamento de seu depoimento, marcado para ontem, pois só iria repetir para os parlamentares o que diz ter visto e ouvido na campanha municipal de 2004. A CPI alegou que o depoimento foi suspenso em razão de uma entrevista coletiva da cúpula da comissão, concedida ontem à tarde.

Em agosto, em entrevista à Folha, Soraya acusou o ex-ministro da Casa Civil e deputado José Dirceu (PT-SP) de ter levado R$ 300 mil para a campanha à reeleição do prefeito Nedson Micheleti (PT). Ela também acusa o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) e o chefe-de-gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, de participarem do esquema de caixa dois na campanha, que, segundo ela, chegaria à cifra de R$ 6,5 milhões.

Ao ser questionada se havia se preparado para o depoimento, disse: "Eu não me preparei, quem me preparou foi o próprio PT. Eu passei um ano e meio assistindo a tudo de errado que eles faziam". Leia a entrevista que Soraya concedeu ontem à noite à Folha.

Folha - Quando informaram à sra. que a audiência seria suspensa?

Soraya Garcia - Até onde eu sei, foi suspensa na última hora.

Folha - Quem a avisou?

Soraya - Foi a sra. Cleide [Ferreira Cruz, da área técnica da CPI]. Ela disse que era isso, sem dar explicação.

Folha - O que a sra. estava disposta a falar na CPI? A sra. se preparou para a audiência?

Soraya - Na verdade eu não me preparei, quem me preparou foi o próprio PT. Eu passei um ano e meio assistindo a tudo de errado que eles faziam. Achei estranho o cancelamento. Só ia dizer o que vi e ouvi, que é o que eu venho dizendo há muito tempo.

Folha - A sra. viu o ex-ministro José Dirceu levar R$ 300 mil para a campanha do prefeito de Londrina ou ouviu a história?

Soraya - Eu estava participando de um evento de confraternização do PT, no dia 18 de setembro [um sábado], do qual José Dirceu participaria [...]. De quinta para sexta-feira, o Augusto [Ermetio Dias Júnior, diretor-financeiro da campanha do prefeito de Londrina] me disse: "Soraya, temos de fazer um evento bem bonito, para agradar ao prefeito e ao José Dirceu, que está trazendo dinheiro".

Folha - Augusto disse quanto Dirceu estaria trazendo?

Soraya - Não, ele não disse. Mas na segunda-feira, dia 20 de setembro, ele chegou com R$ 300 mil, em notas de R$ 100, com lacre do Banco do Brasil.

Folha - A sra. contou o dinheiro?

Soraya - Eu e o Augusto sempre contávamos o dinheiro.

Folha - Como a sra. sabe que foi o dinheiro que Dirceu trouxe?

Soraya - Antes desse dia, não havia um tostão de fundo de caixa [...]. Eu nunca disse assim: o José Dirceu trouxe o dinheiro. Disse que, no dia 20 de setembro, nós estávamos lá, sem dinheiro, quando o Augusto chegou com uma sacolinha, com R$ 300 mil.